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sábado, 8 de junho de 2024

A CULPA É DO VAZIO


 A CULPA É DO VAZIO


Três dias sem dormir esperando a inspiração. Depois que percebeu ser em vão, resolveu continuar esperando.

Que bom é ter pelo menos um motivo para permanecer boiando na vida, pensou já tentando justificar sua falta de talento para escrever. Enquanto não chegava uma ideia massa, pensou em fundar uma empresa de demolição, fazer trilha ou ir à lua, mas nenhum passo foi dado para concretizar esses objetivos preferindo assistir um vídeo onde uma moça defendia a ideia de que a caneta Bic é um ser de outro planeta que quando se perde é porque foi dar satisfação aos alienígenas que controlam a produção acadêmica aqui na terra.

Um outro defendeu que a luz solar é fria e o que faz o clima ser quente é a reação química dela com o oxigênio. Para provar, disse que numa montanha o clima é mais frio do que na planície porque tem menos oxigênio lá em cima, mesmo estando mais perto do sol do que ao nível do mar. 

Nesses tempos ultramodernos, pode-se dizer tudo que, pelo menos, serve de conteúdo para debates irônicos, mas isso não muda nem uma vírgula na falta do que dizer. Se não fossem esses influenciadores, não teríamos como preencher o vazio que toma conta das mentes feitas para criar vazio. Esse vazio é a prova de que os físicos têm razão quando dizem que nos átomos existe um vazio entre as camadas de valência provando que somos apenas um átomo no universo e que carregamos o nosso vazio particular. 

O consumo de drogas tenta preenchê-lo, mas é crime tentar fazer esse preenchimento com esses produtos, pois quando se consegue, deixa-se de se socializar na igreja, na família e no mercado de consumo. Para que a roda continue a girar, tem que pedir a benção a todos os conglomerados que dão emprego às mãos de obra disponíveis.

Esse vazio não é uma característica apenas de meros consumidores comandados por apelos publicitários. Os donos de exércitos ao redor do mundo sonham com a terceira guerra mundial como a criança sonha com um brinquedo novo, e por viverem desocupados e tristes, pensam: por que não jogar uma bomba atômica naquele país vizinho? Planejam dar sentido à sua existência brincando de matar, eis aí o motivo das guerras nunca terem fim. Se resolvermos o problema do vazio individual, adeus conflitos coletivos.


Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 08.06.2024 - 12h47min.

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