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sexta-feira, 7 de junho de 2019

NOITE INVERNOSA - Marco Haurélio


NOITE INVERNOSA

Tive um pesadelo na noite passada:
Sonhei que o Fascismo galgava degraus,
Que o povo aclamava verdugos tão maus
Sem ver o perigo no fim dessa estrada,
O sangue inocente jorrar na calçada
E a peste sombria seus dentes mostrar.
Verdade ou delírio? Não sei explicar,
Pois já não consigo ter serenidade
Num mundo tomado por ódio e maldade
Nos campos, nos prados, na beira do mar.


Sonhei que a Justiça servia ao demônio,
Vergando-se à sanha dos torturadores
E a terra tomada por gritos e dores
Torcia-se se diante do vil matrimônio,
Enquanto o chicote mostrava ao campônio
Que a noite invernosa chegou pra ficar.
Na alcova, a donzela de ferro a quebrar
Os ossos, o espírito, e sem resistência,
Findar apagando qualquer consciência
Dos gritos calados na beira do mar.


Tinido de ferros, ferozes coturnos,
Direita volver na volúpia de sangue,
Fogueira de livros, sujeira no mangue,
Os mochos e os lobos nos bailes noturnos,
O guarda da esquina com gestos soturnos
Cerrando as cortinas do véu do luar,
O vinho entornado na mesa do bar
O corpo à espera de uma alma que o cubra,
E a água que corre parece tão rubra
Que tinge o horizonte na beira do mar.

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