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sábado, 19 de janeiro de 2019

RESMUNGOS DA NATUREZA - Hélio Crisanto


RESMUNGOS DA NATUREZA


Clama toda a bicharada
Na estupidez da seca
Um bem-te-vi na galhada
Belisca uma fruta pêca.
O canto da seriema
Até parece um poema
De tristeza e de lamento
Cantando em cima do morro
Um concriz pede socorro
Contando o seu sofrimento

O sol aceso inclemente
Secando os mananciais
Não se vê uma semente
Nas copas dos vegetais
Um teiú cheio de mágoa
Sem ter um gole de água
Mata a sede num pinhão
Naquele mato esquisito
Um sabiá solta um grito
Como quem teme o verão

Um rio morto em seu leito
Tece o caminho da cruz
Geme um burro insatisfeito
Com medo dos urubus
Ao notar a mata extinta
Uma cobra já faminta
Se arrastando cambaleia
Numa tristeza tamanha
Sozinha uma triste aranha
Sem esperança vagueia

No lamaçal de um barreiro
Sobrevoa um passarinho
Em meio aquele braseiro
Volta com sede pro ninho.
Uma rolinha tristonha
Devido à seca medonha
Não esconde a sua dor
Além da seca renhida
Tem que viver escondida
Pra fugir do caçador

Nessa estiada alarmante Chora um anum desolado Num angico da vazante Um carão triste e calado Envolto ao triste cenário Um gavião solitário Se coça numa porteira Vigiando os matagais Procura restos mortais Espreitando uma caveira A raposa numa gruta Uiva de tanta tristeza Em todo canto se escuta Resmungos da natureza O som triste da cigarra Se ouve ao quebrar da barra Causando desolação Anunciando os flagelos Desmoronando os castelos Do morador do sertão.

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