Padre, o que significa a palavra OBVIAMENTE? Cuma? Obviamente, o que é? Obviamente que o Senhor vai procurar no dicionário, lá na biblioteca. Sim, padre. E fui. O dicionário parecia mais um pneu de trator, de tão grande e grosso que era. barsa. Foi preciso a bibliotecária pegar o bicho comigo e folhear as muitas páginas. Trimmmmm. Tocou. Acabou o intervalo. E era a aula de Religião de padre Raimundo. Zé!!! Sim , Padre. Obviamente o senhor já sabe o que é obviamente, não é? Obviamente que não, padre. Foi uma risadagem geral. De manhã cedo, aula de Ed. Física. Vinte voltas ao redor do campo e bola depois. Suado, lá pras 9 horas, corri pra biblioteca e Beja, Sai daqui menino, sai com essa catinga de macaco, vai tomar um banho e volta. Voltei não. De noite fui pra sala e todos já me chamavam de OBVIAMENTE, mesmo esses todos também não sabendo o seu sinônimo. Faltei o 2º e 3º horários só pra impressionar o padre. Depois de uma longa busca encontrei. Ahh, obviamente é é é é NOTORIAMENTE. Volto as páginas ... é no ó. Trimmmmm. Vou não. Depois, trimmmmmm. Vou não. E Beja, vamos menino, terminou, já é 10 da noite. Peraí. Encontrei , encontrei, encontrei ... notoriamente é é é é é , Era Beja , Bené, Seu Pedro, Seu Antônio, a bibliotecária Dona Sicraninha, todos felizes porque encontrei .... é é é OBVIAMENTE. E todos ficamos decepcionados. De manhã cedo ia passando Dona Fulaninha, minha professora de Geografia. Dona Fulaninha, D. Fula.. que é, meu filho? O que é OBVIAMENTE? Meu filho, é alguma coisa na mente, é isso aí. E o que é essa coisa? Hein, tô ouvindo não, de noite eu digo. Tá certo. E fui pra aula. Em cada passada uma angústia na mente, na esquerda, NOTORIAMENTE, na direita, OBVIAMENTE. NOTORIAMENTE, OBVIAMENTE, NOTORIAMENTE, OBVIAMENTE. E cheguei com cara de choro de menino rebelde, eu quero, eu quero eu queeeero . Levanta a calça e mostra a meia, Zé! Sim, Padre! Só pode ser um palavrão da gota porque ninguém quer dizer, nem o dicionário! E já inconformadamente conformado, lá pras bandas finais do quinto horário, sobe uma sola de torar, como era de praxe toda vez que Padre Raimundo não tava por perto. Mesmo faltando cinco minutos pra o trimmm final, foi um corre-corre de lascar, gente por cima de gente, as meninas com os seus gritinhos histéricos, professor Palhares perdendo a pasta e protegendo a careca das tapas que levava, marmanjo se aproveitando no rela-rela do imprensadinho da porta. E eu ... bem, é difícil até de admitir, mas muito feliz com o meu alegre NOTORIAMENTE. Depois de dois dias de angústia, consegui dormir em paz, com uma grande leveza na mente, e tudo feito bem às claras, OBVIAMENTE.
Muito bacana, Nailson. A senhora Santos riu muito com esse texto.
ResponderExcluirMaravilhoso. Apesar de ter vivido uma época diferente do ICM, existem enorme semelhanças com algumas que vivi... Revivi nas telas da imaginação um pouco do tempo (8 anos) em que fui honradamente aluno da melhor escola que já existiu em Santa Cruz/RN...
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