terça-feira, 27 de maio de 2025

APOSENTADORIA POR MOTIVOS TECNOLÓGICOS

 



APOSENTADORIA POR MOTIVOS TECNOLÓGICOS


Coitados dos escritores. Mal começamos a nos adaptar às exigências do mercado moderno e já estamos sendo substituídos pela inteligência artificial. O ofício das palavras, que sempre exigiu alma, tempo e dedicação, agora está sendo invadido por máquinas que aprendem mais rápido do que qualquer ser humano. Os poetas, então, nem se fala. Como escrever versos cheios de emoção e subjetividade quando um programa pode produzir sonetos em segundos?


Foi o ChatGPT, dizem os caçadores de fantasmas modernos. Eles apontam o dedo sempre que leem algo bem escrito, desconfiando da origem das palavras. Desde que essa tecnologia chegou por aqui, não há mais trégua. É como se cada frase precisasse de um selo de autenticidade humana, uma certidão dizendo: isto foi escrito por uma pessoa de carne e osso.


Os plantonistas da escrita vivem me enviando reportagens sobre o tema, como se quisessem me convencer de que minha profissão chegou ao fim. Quase não dá tempo de respirar entre uma notificação e outra. A enxurrada de alertas parece mais um prenúncio do apocalipse criativo. No entanto, o que muitos não entendem é que a ferramenta pode ser aliada, e não inimiga.


Uso o ChatGPT com frequência — não para roubar ideias ou terceirizar pensamentos, mas para revisar meus textos. Um toque aqui, uma sugestão ali, e o texto flui melhor. É como ter um segundo par de olhos, atento aos deslizes que passam despercebidos por quem escreve imerso em sua própria criação.


Um colega escrivão me confessou recentemente: as oitivas dos boletins de ocorrência já estão sendo elaboradas com a ajuda da inteligência artificial. Basta inserir o corpo do B.O., e o ChatGPT se encarrega de formular perguntas objetivas para o investigado. É prático, rápido e, muitas vezes, mais claro do que o raciocínio apressado de alguém em plantão noturno.


A verdade é que a inteligência artificial está em toda parte. Meu primo, por exemplo, me mandou o laudo de uma ressonância magnética da mãe dele. Em poucos minutos, com a ajuda de um modelo de IA, levantei todas as possibilidades de AVC que o exame poderia sugerir. Uma consulta médica rápida e gratuita, embora, é claro, com todas as limitações de quem não é médico.


Apesar do avanço das máquinas, ainda acredito no poder da mente humana. Há coisas que uma IA não pode substituir: o olhar sensível de um escritor, o instinto de um investigador, o cuidado de um filho. Podemos, sim, usar essas ferramentas para sermos mais eficientes, mas não podemos esquecer quem somos e o que nos diferencia.


Portanto, não, não somos coitados. Somos apenas humanos vivendo uma nova fase da história, onde a convivência com a tecnologia nos desafia a sermos mais criativos, mais éticos e mais conscientes. A inteligência artificial está aí, mas o coração que bate por trás das palavras, esse, por enquanto, ainda é insubstituível.


Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 13h37min.




Um comentário:

  1. ótima conclusão, cronista Heraldo: A inteligência artificial está aí, mas o coração que bate por trás das palavras, esse, por enquanto, ainda é insubstituível. - Gilberto Cardoso dos Santos

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