CRIME E CASTIGO EM MINHA VIDA
Há tempos planejo escrever algo sobre Crime e Castigo, mas acabo sempre postergando, por diversas razões. Um dos motivos para a procrastinação é me perguntar qual a importância de tal resenha, que impacto terá na vida dos leitores e que interesse despertará. Outra coisa é saber o que e como dizer algo sobre uma obra cujas impressões causadas me são tão indizíveis.
Resenhas, em geral, são vistas como textos secundários. Assemelham-se aos prefácios, tão pouco lidos. Mesmo assim, relutante, buscarei levar a cabo meu projeto.
Foi durante uma Especialização que pela primeira vez prestei atenção no lacônico título. Um colega, o Alessandro Nóbrega, falou a respeito do autor e de seu romance “Crime e castigo”. Contou-me ele: “Alguém disse que é um castigo ler este livro, mas é um crime não lê-lo”.
Achei interessante o jogo de palavras e senti profundo desejo de devorar esta obra. Para minha alegria, o próprio Alessandro tinha um exemplar e se dispôs a emprestá-lo.
Com o volume em mãos, fiquei a me perguntar o porquê de a leitura ser um castigo. Tratava-se de um calhamaço. Pensei: Se hoje, para alguns, é um crime não ler tal livro, imagine o castigo que foi para o autor escrevê-la sem as facilidades tecnológicas de hoje!
Teria a ver com a quantidade de páginas ou com o estilo? A parte que me motivava era, conforme dissera o colega, o crime de ainda não a haver lido. Por que seria um crime não lê-lo? Em breve iria descobrir, pois o texto me prendeu com certa facilidade. Mas exigiu de mim atenção redobrada para os detalhes, para o fluxo de pensamentos do Rodion Românovitch Raskólnikov, pois era mais um mergulho em sua mente que propriamente em algum cenário russo ou em sequência de ações, embora isto também aconteça. Foi inicialmente estranho, mas logo se tornou bastante instigante e gratificante, uma espécie de alpinismo literário.
Vendo a empolgação, minha esposa decidiu que também o leria. Nos encantamos com um personagem, o Porfíri Pietróvitch. (Aqui temos um problema para os não iniciados em literatura dostoievskiana e russa: os nomes complicados e apelidos dados aos personagens. Mas nada que não se tire de letra com o tempo).
A leitura desta obra nos rendeu boas conversas, reflexões e risadas.
Posteriormente, fui informado de uma série chamada Columbo, que fora feita tendo como inspiração o citado personagem. Levinson e Link, seus criadores, eram fãs declarados de Dostoiévski e confirmaram esta influência.
Peter Falk, o tenente Columbo, encarnou muito bem a ideia que fazíamos do método de investigação e da personalidade de Porfíri Petróvitch. Não sem razão, a premiadíssima série foi sucesso de crítica e de público em suas dez temporadas. Ao ver esta longa produção, pudemos sentir melhor a força daquele personagem dostoievskiano.
Outro episódio significativo relativo a “Crime e castigo” em minha vida se deu quando minha esposa viajou para a Paraíba. Era próximo do aniversário dela; resolvi surpreendê-la com este romance, impresso em dois volumes ricamente encadernados. No entanto, surpresa maior foi a que tive depois. Ao entrar numa livraria em João Pessoa, ela e minha filha tiveram a ideia de comprar “Crime e Castigo” para mim.
Mutuamente surpreendidos com o excesso de “Crime e castigo”, ficamos contentes ao perceber que eram diferentes traduções. Ainda bem! A tradução em dois volumes fora feita pelo também romancista Rosário Fusco e a partir duma famosa edição francesa.
Além disso, conheci um xará de sobrenome Yoshinaga que me disse haver lido esta obra 6 vezes. Crime e Castigo ajudou a cimentar nossa amizade. É o livro de cabeceira dele. Não cheguei a tanto, mas percebo que esta obra tem me acompanhado e aparelhado minhas percepções desde a primeira leitura.
Recentemente, na praia, em conversa com minha filha acerca de grandes livros e também de fanfics, entendi que Columbo se enquadra no gênero. É uma fan fiction do genial inspetor e tem por padrão a estrutura do romance.
Ao finalizar esta imperfeita resenha, espero que você sinta desejo de dar chance a uma obra que tem encantado a tantos desde 1866 e que se mantém tão atual.
Gilberto Cardoso dos Santos
Contatos do autor: Fone 84 999017248; Gmail, Instagram e Facebook: gcarsantos
Livros de Gilberto Cardoso dos Santos:
Pois, pois. Eis-me aqui com o intuito de ler Crime e castigo incentivado pelos escritos do Poeta Gilberto, do Escritor e amigo Alessandro Nóbrega e pelo Leitor e filho Thomaz Santos, não sei quantas vezes o meu filho leu este livro, no entanto, sei que já leu no livro das novas tecnologias (Kindle) e também o tem na forma tradicional (impresso). Espero me apaixonar por esta leitura .
ResponderExcluirFrancisca Joseni dos Santos.
Como diria Raul, "Tente outra vez." Rsrsrs
ExcluirBela obra! E excelente resenha! Eu tinha esse livro, mas minha generosidade me fez perdê-lo, ao emprestar a um aluno do IESC, nos idos de 2000, que se esqueceu de me devolver, e que não me recordo de quem se trata! (Nailson Costa).
ResponderExcluirGrato, camarada.
ExcluirAlém de professor e poeta incrível, Gilberto manja muito de marketing!! O que vai ter de gente agora interessada por esse clássico (tipo, eu!!) ... Se Gilberto falou, tá falado!!
ResponderExcluir"Deus não existe na força, mas na verdade" (Dostoievski).
Grato por sua expressão de carinho, Jaci.
ExcluirApós ler Crime e Castigo compreendi que os castigos nos perseguem mesmo que não tenhamos cometido crime algum, o que não é o caso. Quanto ao autor em pauta, o Papa Francisco tinha razão, parabéns pela resenha! Goretti Borges
ResponderExcluirGrato, minha amiga, por suas palavras incentivadoras.
ExcluirMeu querido amigo, mestre das palavras e dos versos, seus escritos sempre me instigam a dar um passo a mais nesse universo literário em que vivemos. - Júlio César
ResponderExcluirAgradeço-lhe pelas afetuosas palavras.
ExcluirMaravilhoso esse texto.
ResponderExcluir😀👏🏼 - Cleide Almeida
Grato, mestra.
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