domingo, 31 de maio de 2020

Apocalipse (Conto de Cleudivan Jânio)



Apocalipse

Naquele dia o amanhecer foi muito diferente. Nunca havia visto algo tão inspirador, quando acordei e olhei pela janela às 05h da manhã.
Saímos para ir à praia, eu, meu filho e minha esposa. Ao retornar, não conseguimos acessar a garagem de casa. Estava ocorrendo um evento em um boteco próximo à nossa casa, por sinal na mesma rua, que é estreita e estava tomada por carros estacionados em ambos os lados, dificultando a locomoção dos veículos dos moradores. Então deixamos o carro na avenida próxima e caminhamos cerca de 150 metros até chegarmos à casa.
Mais tarde, já à noite, após a rua estar bem mais tranquila, saí para finalmente ir até o meu carro e conduzi-lo à garagem. Ao chegar nas proximidades do local estacionado, percebi que alguém o havia levado. Naquele instante, não tive raiva, pois percebi que não fazia tanta diferença assim. Afinal, o seguro contratado tomaria as devidas providências. No caminho de volta para casa, percebi que um dos meus maiores pesadelos estava acontecendo. Inexplicavelmente, a rua estava repleta de teias de aranhas, que interligavam os postes de energia, e suas fiadoras desciam por toda a extensão delas. Para onde estavam indo, todas de uma só vez? Naquele momento não tive outra opção, senão vencer, na velocidade, a aracnofobia e chegar até o portão de casa.
Ao entrar percebi que recebíamos a visita de uma amiga de minha esposa naquela noite. Aproveitamos para jogar conversa fora e tomar um bom vinho.
De repente, tudo foi mudando, o céu apresentava em um primeiro olhar duas luas; uma delas acompanhada de um eclipse. Outros astros assemelhados com a lua foram aparecendo no céu, que foi ficando cada vez mais alaranjado. Naquele instante a abóbada celeste parecia uma enorme bola de futebol com seus gomos. Ao longe via-se um fogo que vinha tomando conta da Terra; não era um fogo abrasador, mas sim um fogo que emanava paz. Naquele momento peguei meu filho no colo me debrucei sobre ele, fazendo uma proteção, olhei para minha esposa e sua amiga e, calmamente, falei: “Nos encontraremos em outra dimensão”.        
Cleudivan Jânio




quarta-feira, 27 de maio de 2020

AGRADAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO!



AGRADAR OU NÃO, EIS A QUESTÃO! (Gilberto Cardoso dos Santos)



Ao construir o poema "Nietzsche Atualizado", lembrei de um educador, Mestre em Física. Enviei-lhe a estrofe sem no entanto solicitar opinião, mas ele deu um feedback  positivo e resolveu partilhá-la em seus  grupos. Algo inesperado, porém, ocorreu. Ele me trouxe a má noticia:

- Gilberto, eu mandei seu poema aí para um amigo meu e acho que ele não compreendeu a ideia e disse que você era muito presunçoso. Estava se comparando a Nietzsche, estava muito longe de ser Nietzsche... o que é que você tem a dizer a ele?”

Fiquei triste pela apreciação negativa, mas respondi assim:

- Amigo, diga a ele que eu concordo com a parte final. Estou muito longe de ser semelhante a Nietzsche. Quanto à pretensão de querer ser Nietzsche, ele errou nesse ponto. Mas qualquer coisa que nós escrevemos está sujeita a três reações:  indiferença, admiração ou desprezo. É uma reação natural que cada um tem de acordo com a sua percepção do que foi escrito.

- Gostaria muito que se você explicasse para ele, qual foi o seu objetivo, quando escreveu esse poema.

- Não se incomode com isso não, meu querido. Você sabe que todo escritor está sujeito a ser ou não aceito. As pessoas vão de alguma maneira se apegar ou não ao texto. O próprio Nietzsche tem seus escritos amados por uns e odiados por outros. Ora, quanto mais eu, reles poeta sem muitas pretensões! Este poema tem a ver com um aforismo dele que diz: “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.Eu apliquei isso para o conhecimento que nós temos hoje em relação aos buracos negros. Esquente com isso não. Foi melhor ele ser sincero com você a respeito que aplaudir pra lhe agradar. Talvez isso revele uma boa qualidade nele.”

Meu amigo confirmou que ele era, de fato, sincero. Não lhe disse então, mas pensei comigo que o desconhecido aparentava ser uma dessas pessoas excessivamente emotivas, precipitadas no falar. Ora, havia me julgado sem conhecer-me, com base num único poema, sem levar em conta que devemos separar o escritor do eu poético. Perguntava-me: Não seria ele um religioso? 

Por mim a coisa estava encerrada, conformara-me com seu juízo, mas meu leitor não estava satisfeito e prosseguiu  a discordar respeitosamente do colega. Disse-lhe:

“Você não entendeu. Ele fez o oposto do que você está pensando. Totalmente o oposto.
Segundo Mortimer Adler, existem quatro níveis de leitura, consequentemente, de interpretação.

Nível 1: leitura elementar
Nível 2: leitura averiguativa ou inspecional
Nível 3: leitura analítica
Nível 4: leitura sintópica

O nível 4 é o mais complexo, trata-se da análise comparada de obras literárias. Quando digo obra literária, incluo toda forma de manifestação intelectual: música, pintura, escrita...
Ele fez uma síntese brilhante de estudos sobre buraco negro, teologia, a obra do autor supracitado. Tudo isso numa ironia com a situação vigente em nosso país.

Estudo comparado:
Buraco negro é uma região do espaço-tempo em que o campo gravitacional é tão intenso que nada — nenhuma partícula ou radiação eletromagnética como a luz — pode escapar dela. (Esse você conhece muito bem)."

Agradeci a Nelson Almeida pela generosa e desnecessária porém brilhante defesa . Acrescentei:

- Talvez seu amigo tenha estranhado o título do poema. Tive dificuldade quanto a isso, pois de algum modo queria deixar clara a ponte com o aforismo nietzscheano.

- Provavelmente. Ele também é religioso.

Ao ter ciência de sua religiosidade, entendi melhor sua reação.

Fazer poemas, meu amigo, é como construir espelhos. Estes podem ter defeitos próprios, distorcer a realidade das coisas, mas podem também apenas mostrar o que quem nele se mira não gostaria de ver. A pouca visão de quem nele fixa o olhar também pode atrapalhar a apreciação.

Encerro dando um conselho a quem quer se aventurar na escrita: não se intimide diante das críticas, nem se deixe levar pelos elogios, pois nem todos serão verdadeiros. Desagradar também faz parte do ofício. A crítica, ainda que negativa, é melhor que a indiferença.

Agradar ou não, eis a questão, mas o importante mesmo é agradar-se.








Um cordel sobre o amor durante a ditadura.



AMOR NO TEMPO DO CHUMBO (Nando Poeta)

01
Num mundo em que os jovens
Acreditam nos seus sonhos
E para realizá-los
Almejam caminhos risonhos
Buscando a todo momento
Driblar os tempos medonhos.

Lutam, amam ao mesmo tempo
Sem abrir mão de um segundo
De viverem suas vidas
Na construção de um mundo
De igualdade e ternura
Na busca dum bem fecundo.

Numa época em que o Brasil
Naufragou na ditadura
Muitas lutas e paixões
Unidas numa mistura
Um amor no meio de chumbo
Alcançou plena ternura.

A moça embalando sonhos
Querendo realizá-los.
Acreditou que na vida
Se vive enfrentando abalos.
Mas sem nunca desistir
Persistiu, foi encontrá-los.

02

De Macau partiu sonhando
Foi morar noutro lugar
Com sua tia em Natal
Desfrutando a beira mar.
Na praia de Areia Preta
Abraçou seu novo lar.

Encantou-se com a beleza
Daquele mar natalino.
Naquele céu estrelado
O seu olhar cristalino.
E contemplou a coragem
De mudar o seu destino.

Quando o dia amanhecia
O sol banhava o seu rosto
Da janela do seu quarto
Com quem batia disposto
Junto aos carinhos da tia
Acordava com mais gosto.

Tomava café com leite,
Cuscuz, com ovo passado.
Tapioca e coalhada
O queijo de coalho assado
Na mesa o amor servido
Gentilmente partilhado.

No caminho da escola
Colhia frutas e flores
As belas rosas levavam
Aos seus mestres, professores
Cheiro de jasmim no ar
Distribuindo sabores.

 03
Para estudar escolheu
O colégio ATHENEU.
O seu ciclo de amizade
Naquela escola cresceu
A semente do amor
No seu mundo floresceu.

Nessa turma de calouros
Foram logo se entrosando
No estudo do seu curso
Dia e noite mergulhando
Na matéria de amar
Seu conteúdo abraçando.

Com o tempo se passando
Brotou o conhecimento.
As amizades floriram
No mais puro firmamento.
Com a turma bem atenta
Fez bom relacionamento.

Aquela grande amizade
Baseada no respeito.
Foi crescendo com o tempo
O cordão de amor no peito.
Com muita sinceridade
Sem existir preconceito.

Soledade e Flavinho
José, Edu, Mariana
Antonio, Bia e Paulo,
Somavam na caravana
Numa pureza crescente
A cada dia e semana.

 04

Nos sábados e aos domingos
Ao som de um violão.
Dedilhando a beleza
Entoada na canção.
Encantando todo mundo,
A mente e o coração.

No Porto do Potengi
Lá no bairro da Ribeira.
A lancha deu a partida
Na água morna e maneira.
Indo parar na Redinha
Naquela linda praieira.

Numa palhoça na praia
Abrigo do pescador.
Aconchegaram-se todos
Na fervura do calor.
Mergulharam no mar verde
Como um peixe voador.

Era a festa do caju
E da santa padroeira.
Um som frenético no parque
Animando a brincadeira.
Natal toda desembarca
Nessa praia hospitaleira.

O dia passou tão rápido
A noite veio à seresta.
Na beira mar o namoro
Fazia no peito a festa
Na madrugada, o sereno
Tão forte batia a testa.

 05

O raio do sol cedinho
Foi refletindo na praia.
E até Genipabu
Caminhou-se na gandaia
Cada parada no mar
O nado era de arraia.

Toda turma acompanhava
A alegre brincadeira
Subiu dunas e desciam
Bolando numa ladeira
E durante o dia inteiro
Ninguém sentia canseira.

A Soledade foi tendo
Uma queda por Flavinho.
E no caminho da lagoa
Trocaram um doce selinho
Que alimentou o desejo
Daquele imenso carinho.

Ele muito enamorado
Parou num pé de caju
Começou chupar o fruto
Ouvindo um pio de nambu
Mordeu e tomou um gole
Da cachaça de Pitu.

Levou o caju a boca
O mordeu suavemente.
Sugando todo o seu sumo
Subiu um calor ardente.
Os dois ficaram sorrindo
Um beijo bom de repente.

 06
Debaixo daquele pé
Deleitam naquelas dunas
Os dois ali se abraçam
Carícias são as fortunas
E os carinhos trocados
No recital das craúnas.

No domingo a tardezinha
Regressavam as suas casas
Nessa volta o belo rio
O pôr-do-sol cria asas
Vestindo as paixões latentes
Com o fogo em meio a brasas.

Com o seu jovem amor
À noite a deliciar
O tempo passou voando
Fez o sonho evaporar
E ficando no pensamento
A vontade de voltar.

Sentou na sua mesinha
Pegou lápis e papel
Escreveu à sua mãe
Falando do doce mel
Da boca daquele moço
Chamado Flávio Miguel.

A Soledade escreveu:
— Manhinha nesse momento
Dentro de mim sinto forte
Um formoso sentimento
Nos braços desse rapaz
Tenho grande acalento.

 06
Mãe lembra, quando pequena?
Você falou de amor.
Explicou que essa riqueza
Trazia um forte sabor.
E quando chegasse o dia
Eu saberia dá valor.

Hoje entendo o que falava
Pois estou sentindo agora
Uma paixão fulminante
Disparou bem nessa hora
Encontrei o meu amor
Como dizia a senhora.

Pra viver junto com ele
Sei que ainda é muito cedo.
Somos dois jovens amantes
Da paixão não temos medo.
Revelo a ti minha mãe
Esse meu nobre segredo.

Parto agora à escola
Com o coração palpitando
E no caminho do colégio
É nele que vou pensando.
Sem sentir nenhum cansaço
Só sei que estou amando.

Saudade de meus irmãos
Eu sinto tremendamente
De papai e da senhora
Que nunca me saem da mente
Das amigas lá da rua
De toda essa nossa gente.

 07
Apesar dessa distância
Tenho andado tão feliz.
Aqui fiz belos amigos
Que minha amizade quis.
Conheci muitas pessoas,
Mas não perdi a raiz.

Mando um beijo aos meus avós
E a vó doce, Pretinha.
Diga que eu tenho saudades
Pois ela é minha rainha.
Lembro sempre das histórias
Contadas lá na pracinha.

A carta foi concluída,
Levada para o correio.
Só pensando livremente
Sem ter na vida aperreio.
Gamada no novo bem
Que fez soltar o seu freio.

Saindo feito um foguete
De casa muito atrasada.
Parou, colocou a carta
Devidamente assinada.
Chegou no portão da escola
Encontrou a força amada.

Olhando um para o outro
A força de uma paixão:
Bom dia meu bem querer
Foi logo lhe dando a mão
Ela carinhosamente
Beijou-lhe com emoção.

 08
Acertaram que no pátio
No horário do recreio
Marcariam um encontro
Para saírem em passeio
Mas houve um desencontro
E o Flavinho não veio.

Ele pediu ao amigo
Um precioso favor
Para levar um recado
À sua mais bela flor
Um bilhete foi entregue
Acalmando o seu amor.

Nas poucas linhas descreve
O porquê da sua ausência.
Um pedido de desculpa
Escreveu com reverência.
Por ter tido um contratempo
Num assunto de urgência.

A Sol ficou muito triste
Lendo o comunicado.
Porém marcou novo encontro
Para um momento agendado
E na Praça Pedro Velho
Foi o cenário adequado.

No dia do novo encontro
Flávio não vem a escola
A Sol quase que aflita
Pensou em não dá mais bola
Pois no seu juízo vinha
Que a paixão se descola.

 09
Mas a dúvida na cabeça
Soledade sem saber
Se estava confirmado
Se o encontro iria ter
Mas pensou: — Eu vou cumprir
Ele deve aparecer.

Quando a aula terminou
Seu coração palpitando
Soledade se apressou
Pelos amigos passando
Correu logo para a praça
No seu amor foi pensando.

Enquanto o tempo voava
A Soledade ansiosa
No banco bem à vontade
Aguardava-o para a prosa
Mas seu amor atrasou
Deixando a pobre nervosa.

Num instante ela percebe
Sua turma de amigos
A frente de uma marcha
Falando de inimigos
Que golpearam o poder
Chegando com seus perigos.

Atenta ficou ouvindo
Sem quase nada entender.
Sobre o Golpe Militar
Que se instalou no poder.
Sua curiosidade
Lhe daria esse saber.

 10
Contou que dias atrás
Lá na Central do Brasil.
O Presidente Goulart
Fez um discurso viril.
No Rio prometeu reformas
Deixando o milico hostil.

Ana informou que no rádio
Estavam anunciando
Que as tropas do Exército
Ao Rio estavam marchando
De São Paulo e das Minas
Estariam já chegando.

Vão querer destituir
Esse presidente eleito
Para instaurar no país
Um regime em que o respeito
Aos direitos democráticos
Perderiam todo efeito.

Edu fez o seu chamado:
Todos estão convocados:
Faremos aqui a marcha
Contra os golpistas irados
Abaixo essa ditadura
Pra não sermos torturados.

Na praça chegaram todos
Os alunos do ATHENEU
Com faixas, gritos de guerra
Parecia um coliseu
Dispostos a enfrentarem
Sem achar que já perdeu.

11

O Paulo gritou do banco:
Abaixo essa ditadura.
Fora a corja de milicos
Querem impor a vil censura,
Instalando no país
Um regime de tortura.

Soledade vê amigos
Nessa batalha de rua
Cada um erguendo os punhos
Falando da falcatrua
Daqueles homens fardados
Que com golpe tumultua.

Ela é pega de surpresa
Quando vê Flávio Miguel.
Discursando na plateia
Contra esse golpe cruel.
Gritando que os militares
Retornassem a seu quartel.

Ele narra vigoroso
O seu posicionamento
Do que estava acontecendo
Naquele exato momento
E de um banco da praça
Expôs o seu argumento:

Meus queridos camaradas
Queremos democracia
Junto a classe operária
Que trabalha todo dia
Não queremos esse golpe
Perverso de tirania.

 12
Meus amigos companheiros
Nesse primeiro de abril
O Exército Brasileiro,
Cavalaria e fuzil
Quer impor uma derrota
Escravizando o Brasil.

Ao seu redor se ajuntava
Uma massa de estudantes
Aplaudiam e gritavam
Vamos todos militantes.
Derrubar os militares
Essa corja de farsantes.

Cada discurso inflamado
Aquecia toda a luta.
Uma revolta se impera
De maneira absoluta.
Contra o Golpe Militar
Que usou da força bruta.

Durante várias semanas
Nas ruas desse país.
Foram travadas batalhas
Buscando lá na raiz
Derrubar a ditadura
Constrangedora, infeliz.

No rádio se anunciavam
Todo o acontecimento.
Da queda do João Goulart
Trazendo um grande tormento.
Porque o Exército usava
A bala como argumento.

13

Soledade perguntou:
O que estava acontecendo
Você não tem nenhum medo
Desse tempo tão horrendo?
Precisamos conversar
Sobre o que estou percebendo.

Miguel diz: Quando acabar
Essa manifestação.
Eu com toda paciência
Faço a minha explicação.
Você ficará por dentro
De toda essa confusão.

A marcha seguiu em frente
Na Avenida Deodoro.
Centenas de estudantes
Dava seu grito sonoro
Destruiu-se a liberdade
Na força de um meteoro.

O comando militar
Pelo jornais da cidade,
Ameaçou usar a força
Com toda brutalidade.
Contra a quem resistisse
A ordem da autoridade.

Naquela manhã de abril
Foram as ruas de Natal
Ocupadas brutalmente
Pela tropa Federal
Levando a “caça as bruxas”
Usando a força total.

 14
Saíram de casa em casa
No maior clima de horror.
Prendeu líderes sindicais
Os trataram com terror
Cruelmente agredidos
Na mão de torturador.

Toda manifestação
Chegou ao fim da manhã
Muitos voltaram as casas
Mas sentindo aquele afã
De poder ter posto um fim
A ditadura vilã.

Para a tarde, o movimento
Convoca uma reunião
Marcou-se as dezesseis horas
A pauta é a reação.
Sendo o ATHENEU o ponto
Da nova aglomeração.

Flávio disse a Soledade:
— Vá pra casa meu amor
Estarás bem mais segura
Por mim faça esse favor.
Hoje à noite eu te procuro,
Oh! minha querida flor.

Flavinho não aceito isso
A luta também é minha
Eu quero ficar por dentro
Não sou de fugir da linha
Posso ir a reunião?
Ou me achas tão burrinha!

 15
Sol assim não pode ser
Somos um grupo fechado
E com o Golpe Militar
Ficou agora arriscado
As reuniões são secretas
Por isso, todo cuidado.

Sol revelou que a marcha:
Havia aberto a cabeça
A mente agora me empurra
A tudo que se mereça
Minha consciência aberta
Fará que eu não esqueça.

Aquele momento marca
Para sempre a minha vida.
Eu decidi me somar
E não ficar dividida
Ao lado do povo pobre
Que tem a vida sofrida.

Minha querida eu sou
Da batalha um militante.
Quero transformar o mundo
Por isso sigo adiante.
Sou integrante do MAR
Um grupo de caminhante.

Sou parte do Movimento
De Ação Revolucionária
Atuamos nas escolas
Falando em luta operária
Também batalha no campo
Querendo Reforma Agrária.

16

Meu dedicado Flavinho
Quero estar ao seu lado.
Achei essa luta justa
Tudo é do meu agrado.
Sou filha de camponês
Sei onde corta o machado.

Os dois juntos caminhando
Param num caldo de cana.
Pediram caldo e pão doce
Matando a fome que esgana
Soledade ouvindo tudo
Sem bater nem a pestana.

De volta ficam na praça
Conversando num banquinho.
Falaram de amor, de luta
Trocaram um doce carinho.
Chegou a hora marcada
Saíram devagarzinho.

Daí eles foram juntos
Assistir a reunião.
Quando vão se aproximando
Todos olham com atenção.
Pela presença de Sol
Pedem uma explicação.

Flávio na fala explica
O motivo da presença.
É que a jovem Soledade
Com toda sua sabença,
Espera que o grupo aceite
Sem nenhuma diferença.

17

Foi aceita a adesão
Dessa nova companheira.
Agora ingressou ao MAR
Sendo parte da fileira.
A mais jovem combatente
A frente dessa trincheira.

Uma voz se levantou
Trazendo, o questionamento.
Da nova incorporação
Sem ter um engajamento.
A maioria discorda
Do jovem e seu argumento.

Os militantes presentes
Aprovaram a sua entrada.
Começa a reunião
Da necessária jornada
De resistência ao golpe
Para a sua derrubada.

Os planos são aprovados
Pra pôr fim a ditadura.
Todos saíram imbuídos
De toda luta futura.
O golpe que se inicia
No regime de tortura.

Os estudantes nas ruas
Aumentaram a resistência.
No combate as prisões
Lutou com intransigência
Exigindo o fim do golpe
Chamou desobediência.

18

No ano de meia cinco
O Flávio e a Soledade.
Fizeram vestibular
Foi grande a felicidade.
No curso de Medicina
Passaram na faculdade.

Na UFRN
Foram fazer militância
O MAR foi ganhando força
Tendo a maior substância
A atuação de Sol
Foi de grande relevância.

Construíram o CA
No Curso de Medicina.
Soledade e Flávio eleitos
Nesse tempo de botina,
Onde a ação dos milicos
Era feito de rapina.

A força da baioneta
Não deixou ninguém em paz.
Pois caçavam a militância
Com seu ódio mais voraz.
Os tanques saindo às ruas
Na violência tenaz.

Dentro da universidade
A luta era muito intensa.
Por democracia urgente
Moradora na dispensa
Dos porões da ditadura
De onde arrotava ofensa.

19

A perseguição aumenta
Aos integrantes do MAR
Diante das ameaças
Procuraram outro lugar.
Deixando a terra natal
Foi noutro mar navegar.

Quando a Sol ficou sabendo
Da proposta de partir.
Resolveu comunicar
Aos seus pais que vão sentir.
Com a partida da filha
Fez dor no peito fluir.

Sentou-se à mesa e escreveu:
— Minha família querida.
Irei para uma viagem
Estou hoje de partida.
Não sei ainda o destino
Onde farei minha guarida.

Ao lado do meu amor
Sonho pela igualdade.
Talvez vocês não entendam
A nossa finalidade
De lutar pela justiça
Na nossa sociedade.

Assim que tiver notícias
Aviso do paradeiro.
Qual o local da morada
Minha e do meu companheiro.
Com a saudade tamanha
Vou deixando um grande cheiro.

20

Pediu para uma amiga
Ser a sua portadora.
Uma colega de curso
De Macau foi moradora.
Prontificou-se em levar
Sua carta a genitora.

Num sábado chega a Macau
Corre e não se atrasa:
— Dona Flor, seu Chico Antonio
Tem alguém aqui na casa
Sou Zule, trago notícias
Quentinhas feito uma brasa.

Seu Chico abriu a porta
E mandou a moça entrar.
Sorrindo falou pra Zule
No banco pode sentar.
Vou atrás de minha esposa
Que no quintal deve estar.

Dona Flor chegou alegre
Com o rosto de paisagem.
Ansiosa pega a carta
Seus olhos fez a viagem
Em voz alta lê todinha
E o pai mudou de imagem.

Uma tristeza abateu
Foi choro nesse momento.
Zule mais reflexiva
Vendo aquele sofrimento.
Despede-se e leva ao peito
Uma carga de lamento.

21

A Sol e Flavinho constroem
O cenário da partida.
Com os camaradas fazem
A festa de despedida.
Na beleza da Redinha
Nos encontros dessa vida.

No outro dia cedinho
Prontos vão para a viagem.
Quando chegam no Recife
O ônibus vai a garagem.
Passa horas no concerto
Ajeitando a engrenagem.

Era meia sete, o ano
Quando chega a Salvador.
Cai na clandestinidade
Fugindo do vil terror.
O casal de militantes
Vive seu intenso amor.

Neste ano o Costa e Silva
Assumiu a presidência.
A terrível LSN
Promulgou obediência
E em nome dessa lei
Atuou com virulência.

Agora o Flávio e a Sol
São o Beto e a Raquel.
E com o novo codinome
Cumpriram um forte papel.
Lutando por dia e noite
Contra as forças do quartel.

22

Mas passaram pouco tempo
Logo foram transferidos.
Depois de um tiroteio
Que os deixaram feridos
Decidiram que no Rio
Estariam mais protegidos.

No ano de meia oito
Ainda no seu início
Em pleno Rio de Janeiro
Passaram por precipício
Levaram uma vida dura
Pautada no sacrifício.

No bairro de Olaria
No local que o partido.
Garantiu como refúgio
Para viverem escondido.
A militância política
Dava-lhe novo sentido.

Grandes mobilizações
De milhares de estudantes.
Nas ruas ganharam força
Com suas ações brilhantes.
Lutando por liberdade
Caminharam irradiantes.

No RU Calabouço
A repressão violenta.
Matou um jovem estudante
De maneira virulenta.
Edson Luís L. Souto
Foi vítima da mão sangrenta.

23

As ruas foram se enchendo
De revoltas e batalhas.
Denúncia de truculências
Encheram várias mortalhas
Sangrando gente inocente
Nas afiadas navalhas.

Já no quarto aniversário
Da ditadura no Rio
Abriu-se um forte confronto
Um momento tão sombrio
PM’s deixam feridos
Descobertos passam frio.

O Exército ocupou
A grande Rio de Janeiro.
E no Centro da cidade
Foi do mal o mensageiro
Pisoteou a liberdade
Do terror foi escudeiro.

O movimento chamou
Uma missa em homenagem.
Ao jovem Edson Luís
Vítima da cruel moagem
De tirania e pavor
Na arte da camuflagem.

Nesse ato de protesto
A missa de sétimo dia
Policiais a cavalos
Sobem a escadaria
Da Igreja Candelária
Semeando a tirania.

24

As prisões feitas em massa
Um mar de prisioneiro.
Os ataques virulentos
Ecoou no estrangeiro.
Mas seguiu a ditadura
No seu ato corriqueiro.

O Beto e Raquel tiveram
Presente no movimento.
Atuando passo a passo
Na luta sendo o rebento.
Em prol de organizar tudo
E provocar crescimento

Vários grupos de esquerda
Convocaram um congresso
Sendo clandestinamente
Organizado o processo.
Unificou-se as tendências
Para impedir retrocesso.

Deu origem a Frente Unida
Ampla na reunião.
Selou-se o compromisso
Buscando conexão
Na luta contra o regime
Totalitário em questão.

A FUA ganhou espaço
Tendo mais as condições
De fazer enfrentamentos
De promover as ações
Contra os tiranos de fardas
E as suas maldições.

25

A FUA marcou a noite
A pichação na cidade
De “Abaixo a ditadura”
O centro da atividade
Pintaram muros, fachadas
Dando visibilidade.

Mas no breu da madrugada
Surgiu uma viatura.
Querendo impor sua ordem
Com carimbo de censura.
Proibiu e fez prisões
Na marca da ditadura.

Beto e Antonio escaparam
Ana e Raquel foram presas.
Na mão da cruel tortura
Elas não ficaram ilesas
Pau de arara, choque elétrico
Com as dores ficaram tesas.

Pensaram que não saíam
Com a vida da prisão.
Depois de quase dois dias
Soltaram, abriram mão.
E as duas militantes
São livres da repressão.

O que deixaram escapar
Por parte dos ditadores.
As duas seriam usadas
Pra descobrir os mentores
Do “grupo de criminosos”
Vermelhos agitadores.

26

A FUA se antecipou
Já se tinha orientado
De quando alguém caísse
Fosse ao local combinado
E ficasse por algum tempo
Do partido isolado.

Elas seguiram a cartilha
E ficaram escondidas.
Distantes da militância,
Mas sempre bem protegidas.
A FUA depois descobre
Que estavam recolhidas.

Nisso discutem um plano
Melhor para resgatá-las.
Preparam a operação,
Do canto vão retirá-las
Do aparelho vigiado
A FUA foi libertá-las.

O sucesso foi total
Dessa operação de risco.
Para a repressão, as duas
Era apenas um petisco
Ditadores não queriam
Se molhar em um chuvisco.

Naquele momento o povo
Aumentava a resistência
E pelo Brasil afora
Um ciclo de consciência
A juventude lutava
Em busca de providência.

27

O Maio Francês floriu
Na luta da juventude.
Banhou o Brasil de ânimo
Na força da plenitude.
Mostrou o caminho certo
E a generosa virtude.

Os militares agiram
Na sexta-feira sangrenta.
As mortes no Rio fizeram
Jorrar um mar de tormenta.
E pelo Brasil afora
A resistência aumenta.

Passeata dos cem mil
Eram artistas, estudantes.
O clero e sindicalistas
Marcharam irradiantes
Da luta por liberdades
Foram forças tão constantes.

Raquel e Beto de frente
No cordão de abre alas
Nas esquinas que passavam
Pronunciam suas falas
Denunciando o Exército
Seus ataques, suas balas.

No meio da multidão
Beto parou numa esquina
Lembrou-se dos metalúrgicos
De Osasco fez a sina
De ocupar a Cobrasma
E para toda oficina.

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Lembrou outra luta forte
Dos peões lá de Contagem
Que em plena ditadura
Mostrou a sua coragem
De lutarem contra o arrocho
E o regime da moagem.

Os presentes vibram muito
Com a luta operária
Raquel de punho erguido
Gritou: — A luta é diária
Queremos salário e terra
Para a reforma agrária.

Ficou conhecida em junho
Por sexta-feira sangrenta.
Dezenas de jovens mortos
Pela ação truculenta
De militares cruéis
De prática tão violenta.

Em São Paulo os operários
Atiram pedra em Sodré.
O governante atingido
Em plena Praça da Sé.
Saiu com toda urgência
Pois lá não dava mais pé.

A luta em todo país
Continuou muito quente.
Na UNB de Brasília
Prenderam o presidente
Da UNE, uma entidade
Lutando incansavelmente.

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A FUA foi a São Paulo
Com o Beto e a Raquel.
Para discutir com um grupo
Sua entrada no plantel
Somando-se as fileiras
Na militância fiel.

Com o ingresso do grupo
Para a organização.
Terminou Beto e Raquel
Em São Paulo e região
Construindo o partido
Visando a revolução.

Escolheram pra morar
Marquês de Paranaguá
Cruzando com a Rua Augusta
Seu endereço era lá
Um apartamento seguro
Onde a luta vingará.

Os dois na batalha intensa,
Não param nenhum segundo.
A FUA fez seu jornal
Querendo mudar o mundo.
Abordando cada assunto
Com o olhar bem profundo.

Tiveram no desafio
De travarem a batalha
Na rua Maria Antonia
Contra a corja de canalha
Do grupo vil da Mackenzie
Que cortou feito navalha.

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Foi no Centro de São Paulo
Na USP, Filosofia.
Seus alunos atacados
Num ato de covardia
E a PM intervindo
Com a força da tirania.

José Guimarães é morto
Pelo tiro do chacal
Era um secundarista
Que a vida chega ao final.
Assassinado na rua
Da São Paulo capital.

Aumentou-se a repressão
Aos grupos de estudantes.
Eles muito bravamente
Enfrentam os comandantes
Por esmagar os direitos
De todos os caminhantes.

A UNE realizou
Seu congresso em Ibiúna
Em um sítio mais seguro
Supria toda lacuna.
Para combater o mal
Que ao bem não coaduna.

Com o seu grito de guerra
Gente A UNE somos nós
Completando ainda a frase
Nossa força e nossa voz
O estudante aguerrido
Luta contra o seu algoz.

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A força da repressão
Prendeu todo o congresso.
Foram oitocentos jovens
Deixando o seu nome impresso.
Nos arquivos militares
Gerando um retrocesso.

Raquel e Beto detidos
Com os demais estudantes.
Foram à delegacia
Sofrerem os mais humilhantes.
Insultos, empurrões, socos
Presos como meliantes.

Em seguida liberados
Procuraram proteção.
Alugam um quarto na Lapa
A luta não era em vão.
A vida de militância
De fazer revolução.

Na época os jovens vibravam
Em seus festivais de artes.
Suas canções de protestos
Eram grandes baluartes.
Foram logo censuradas
No Brasil em várias partes.

Os artistas perseguidos
Com as canções censuradas.
São expulsos do país
As honras tão humilhadas.
Por seus cantos de protestos
As vidas são castigadas.  

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O governo em meia oito
Já no finalzinho do ano.
Decretou o AI-5
Em seu ato desumano.
Cassações, fecham o Congresso
Com sua ação de tirano.

Suspendeu o Habeas Corpus
Reprimiu com violência,
Extinguiu muitos direitos
Sem ter nenhuma clemência,
Intensificou os ataques
Com a mão da virulência.

Cria asas e endurece
Golpeando o movimento.
Desmantelando a esquerda
Aumentando o sofrimento
Da militância aguerrida
Que mergulhou no tormento.

As prisões abarrotadas
Viram locais de torturas.
Gente desaparecendo
Nesse mar de amarguras.
Fecham a boca de quem grita
E se abrem sepulturas.

Os grupos de resistência
Abriram o amplo debate.
Alguns apontam a guerrilha
Como forma de combate.
Contra essa posição
Outra corrente rebate.

33

A luta política abre
Uma cruel ruptura
O amor de Beto e Raquel
Cai no tanque de amargura
Pois o caminho bifurcou
Por causa da ditadura.

Eles acharam melhor
Cada um buscar seu lado.
Beto e Raquel divergiram
No destino separado.
Entre um amor se deu trégua
Forçados pelo Estado.

Beto e Raquel se dividem
Ele assumiu a guerrilha.
Admirando Fidel
Vai fazer curso na Ilha.
Com outros jovens treinados
Para a luta armada trilha.

Entrou em um grupo armado
Passou a fazer ações.
Fazendo assaltos em bancos
Expropriou munições
Sequestrou pra libertar
Muitos jovens das prisões.

Foi preso e torturado
Fora de circulação
Beto sofreu as pancadas
Alojado na prisão
Sem saber seu paradeiro
Ninguém avistou mais não.

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No ABCD paulista
Raquel arranjou trabalho.
Numa grande montadora
Encontrou seu agasalho.
Na metalúrgica firmou-se
Não tendo mais embaralho.

Tentou a paixão de novo
Mas não fazia sentido
No seu peito só brilhava
O que já tinha vivido
Com o seu Flávio Miguel
O tal desaparecido.

Era o ano de setenta
O Brasil Tri-campeão
Os dois amores distantes
Mas acesos na paixão
Porém tinham a certeza
Da força da união.

Uma repressão cruel
Desmantelamento forte
De todo grupo de esquerda
Sendo vítima até da morte
A militância acuada
Muitos perdendo seu norte.

O povo alegre na rua
Vibrando com a seleção
E nos porões do poder
Habita a escuridão
E a taça erguida de fato
Tinha o fel da repressão.

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Desse período em diante
A luta era clandestina.
A esquerda dispersada
Com o peso da botina.
A cautela vira a marca
Para se erguer da ruína.

Ninguém entregou os pontos
Forças foram ressurgindo.
A militância atuando
No dia a dia intervindo
Cada bloco de tijolo
A parede foi subindo.

A Raquel firme na luta
Adere a Liga Operária
Com um peso estudantil
Na militância diária
A reconstrução da UNE
Tão urgente e necessária.

Um grupo de militantes
Foi fazer a panfletagem
Abril de setenta e sete
Uma blitz faz abordagem
Os três militantes presos
Direto pra carceragem.

Vivia-se um momento
Que a hostil ditadura
Desejava que o país
Iniciasse uma abertura
Estreita, bem limitada
Para não sofrer fissura.

36

A revolta foi geral
Na assembleia de estudantes
Na USP logo aprovou-se
A corrente dos gigantes
No Largo de São Francisco
Convocou manifestantes.

O ato surpreendente
Pedindo a libertação
Dos três jovens presos a força
Por fazer divulgação
De um Primeiro de Maio
De abaixo a repressão.

Raquel a frente do ato
Viu um rosto conhecido
De alguém vestido de monge
Seus olhos viu parecido
Teve a certeza que era
O amor desaparecido.

Mas continuou a fala
Meus amigos companheiros
Vamos virar esse jogo
Dar fim a esses vespeiros
Ditadores sanguinários
Com apoio de estrangeiros.

A anistia política
De quem está na cadeia
É urgente, é para ontem
Não dá pra viver na peia
A prisão desses três jovens
É o fim da desgraça alheia.

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É hora de retomar
Toda a luta estudantil
Fortalecer nossas forças
Na entidade juvenil
Acendendo a liberdade
Aqui em nosso Brasil.

Raquel terminou a fala
Entrou, foi na multidão.
A procura de um rosto
Que lembrou sua paixão.
Os seus olhos viajaram
Naquela imensidão.

Já estava desistindo
Quando parou numa esquina
Viu o tal monge parado
Num posto de gasolina
Sua voz soltou: — É Beto?
Esse rapaz de batina.

Um silêncio invadiu
Naquele exato momento.
Era Beto e Raquel
Não pediu nem documento
A paixão saltou aos olhos
Vindo lá do firmamento.

Num abraço apertado
Os dois revelam o amor
Que a luta e a paixão
Unidas, fazem o fervor
Alimentando a justiça
De um mundo libertador.





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