sexta-feira, 24 de abril de 2020

A VIRULÊNCIA DAS FAKE NEWS - por Marcos Cavalcanti



A VIRULÊNCIA DAS FAKE NEWS

Foi o dramaturgo Ésquilo, que já no século V antes de Cristo, alertava aos seus concidadãos gregos que: “Na guerra, a verdade é a primeira vítima.” Os séculos passaram e a sua assertiva permanece mais verdadeira do que nunca. Na verdade, a capacidade de propagação da mentira foi potencializada exponencialmente com o aperfeiçoamento tecnológico dos meios de comunicação, em face da ultravelocidade com que circulam as informações em todas as formas de “textos” hoje existentes, sejam dos emotions aos editoriais de jornal, das lives opinativas aos documentários, dos memes aos vídeos diversos. Tudo pode estar impregnado de mentiras, de falsos dados, de meias-verdades. Aos receptores, como defender-se desta virulenta epidemia batizada há alguns anos de INFODEMIA? Não é demais lembrar que a mentira oficializada por alguns governos tem matado no mundo mais do que todos os vírus e bactérias juntos. Só para ficar num único exemplo recente de nossa história, lembram das justificativas mentirosas para a guerra do Iraque? Durante o período em que durou esta famigerada guerra foram gastos mais de 8OO bilhões de dólares e a mortandade entre os iraquianos ultrapassou a catastrófica cifra dos 6OO mil mortos entre civis e combatentes.

O ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels propalava que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade“. Este sórdido método ganha ainda mais força em momentos de crise ou de “guerra sanitária” como o que estamos vivendo. Pelas redes sociais pululam as fakes news e por mais que existam sites ou organizações tentando combatê-las, a tarefa parece ser a de um Davi contra um Golias, com a diferença de que neste caso, o pequeno hebreu não dispõe nem de uma mísera funda ou pedregulhos para arranhar a testa do gigante, leia-se por gigante as corporações midiáticas de nomes bem conhecidos.

O fato é que é cada vez mais avassaladora a propagação da mentira e os efeitos deletérios são de toda ordem: econômicos, sociais, emocionais, políticos, podendo atingir desde a singularidade de um indivíduo como a coletividade de uma nação inteira. No Brasil, como no resto do mundo, temos verdadeiras fábricas de mentiras a serviço de gente mui graúda, que as financiam diuturnamente movidos por propósitos escusos, mas muito bem definidos em suas estratégias maquiavélicas de poder.
É muito difícil lutar contra o anonimato de um exército de filisteus pagos com o vil metal para difundir fake news, ou lutar ainda contra um outro fenômeno também abjeto que é a desqualificação das pessoas através de desenhos e caricaturas monstruosas e degradantes ou veiculação de vídeos sem o menor respeito à dignidade humana. O atavismo antropofágico destas pessoas não têm limites e não poupam nem crianças nem idosos, todos são jogados na vala comum na busca incessante de curtidas ou coisas que tais.

Mas afinal, existem antídotos ou vacinas eficientes contra esta praga? Existem, mas não é com uma simples picada de vacina ou com uma gotinha antiviral que isto se resolve. É preciso uma profilaxia permanente! Começar pela leitura da Ética a Nicômaco, do velho e sábio Aristóteles, pode colocar qualquer um no bom caminho. Desenvolver o raciocínio crítico, e por meio da razão, aprimorar ao máximo possível o seu próprio “senso ético”. Esta é a melhor forma de escaparmos às mentiras cotidianas e não as propagarmos. Compare as informações, consulte veículos de comunicação distintos e que tenham alcançado alguma credibilidade; verifique minuciosamente as fontes; reflita mil vezes antes de propagar alguma notícia. Veja se ela passa pela velha lição das três peneiras, a da Verdade, a da Bondade e a da Necessidade. Somente quando cada um de nós nos transformarmos em muitos Davis, o Gigante Golias, como um vírus confinado por nossa ação ética, perderá a sua força, ainda que não seja, por óbvio, extinta ou decapitada!


Formado em Letras e Jornalismo, estudante de Filosofia (UFRN). Escritor (poeta e prosador), autor de Viagens ao além-túmulo (poesia), Antropofamélicas palavras (poesia) e de Acontecências - Retratos de meu Inharé (crônicas). É também fotógrafo artístico.


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domingo, 19 de abril de 2020

O Maior dos Medos é o da Morte - por João Maria de Medeiros



O Maior dos Medos é o da Morte

Olá, meus amigos, olá , minhas amigas.

Um assunto que há muito tempo reluto em escrever é sobre os nossos medos. Um tema complexo e que exige de quem escreve bastante cuidado, sensatez e equilíbrio. Mas hoje decidi e vou enveredar por essas linhas e espero inspiração para bem tratar deste assunto.

O medo acompanha a humanidade desde o princípio de tudo.

Nós temos muitos medos. Medo da violência, medo de perdermos  o emprego, de perdermos  as pessoas que amamos, de irmos pro inferno (medo muito comum a quem é religioso). Uns têm medo de cobra, outros de sapo, dentre tantos outros medos que nos acompanham.

Mas nosso maior medo mesmo, é o medo da morte. Este medo é tão grande, que quando falamos com alguém sobre a morte, sobre “quando chegar o nosso dia”, "que todos um dia morreremos", que "o que temos de certo nesta vida é a morte", geralmente, alguns dos interlocutores da conversa, dizem que "é melhor mudarmos de assunto!"

E por falarmos na morte, esta coisa que nos aterroriza,  atualmente, experimentamos um momento crucial, onde a vida passa a ter muito valor, frente às incertezas que se aproximam de nós. Gente morrendo aos milhares diariamente no mundo inteiro. Máquinas cavando sepulturas, hospitais lotados, onde médicos precisam tomar decisões difíceis: quem ficará pra trás (morrerá) ou quem fica pra ser cuidado e, possivelmente curado?

Este é o ponto a que chegamos em vários países do mundo, e pelo que supomos, pelos desdobramentos de escolhas feitas,  em breve ocorrerá também aqui no Brasil. Torço que não. Mas sinceramente, não vislumbro outra perspectiva. Tomara que estejamos enganados, "para o bem de todos e felicidade geral da nação!"

Durante toda a  minha vida passei perto da morte, tive perdas importantes na vida, como a da pessoa que me fez ser o que sou hoje: minha mãe querida.

Confesso: tenho muito medo. Medo da morte.

Mas há alguns consolos que nos são dados ou deixados, por quem acredita na continuação da vida mesmo após a morte, como nos versos do poeta Nicanor Bessa da Silva:

A morte não é o final!
A morte não é o começo!
A morte é só o sinal...
Que a vida tem o seu preço!

Outro argumento de que a morte é necessária, vem do grande escritor  Português, José Saramago. Para ele,  a vida sem a morte perderia todo seu sentido. Vejam o que nos transmite  sobre a morte:
Em " As intermitências da morte", ele imagina um mundo onde ninguém morre. Essa é a prerrogativa dessa história, criada pelo gênio da literatura portuguesa.

Nesse mundo fictício, o autor faz uma ampla divagação sobre inúmeros temas, como a vida e a morte, o amor e o sentido e, claro, sobre a nossa existência. Em um mundo no qual ninguém morre, existem muitos problemas, como a falta de leitos nos hospitais, a falta do sentido das religiões e, claro, a superlotação de pessoas “quase mortas” — enfermas gravemente, mas que não podem morrer (já que a morte não existe) e ficam presas em um sofrimento sem fim. Embora esse seja um livro bastante crítico sobre a nossa sociedade, ele nos ajuda a refletir sobre a importância da morte e da nossa vida ter um fim, ajudando a tornar esse momento menos impactante.

A conclusão de tudo isso, de assunto tão complexo,  é de que devemos  viver  com toda plenitude, fazendo o bem, respeitando nosso semelhante , sendo solidários uns com os outros,  porque depois da morte,  o que ficará aqui de bom para os que deixamos mesmo é a saudade dos nossos bons exemplos.

É o que diz Bráulio Bessa na poesia abaixo:

SEMPRE HAVERÁ ESPERANÇA

Enquanto o amor pesar
mais que o mal na balança,
enquanto existir pureza
no olhar de uma criança,
enquanto houver um abraço,
há de haver esperança.

Enquanto nosso perdão
for mais forte que a vingança,
enquanto se acreditar
que quem acredita alcança,
enquanto houver ternura,
há de haver esperança.

Enquanto você sorrir
por uma boa lembrança,
enquanto você lutar
com uma força que não cansa,
enquanto você for forte,
há de haver esperança.

Enquanto a canção tocar,
enquanto seu corpo dança,
enquanto nossas ações
forem nossa grande herança,
enquanto houver bondade,
há de haver esperança.

Enquanto se acreditar
numa sonhada mudança…
pelo fim da violência,
pelo fim da insegurança,
enquanto existir a vida,
há de haver esperança.

Esperança no amanhã
e no agora também.
Tenha pressa, é urgente,
não espere por ninguém.
Não adianta esperança
se você não faz o bem.

Transforme sua esperança
em algo que não espera.
É no meio da maldade
que a bondade prospera.
É justo no desespero
que a paz chega e impera.

É quando se está sozinho
que um abraço tem valor.
Repare que é no frio
que a gente busca o calor.
E é justo onde existe ódio
que tem que espalhar amor.

Não adianta assistir,
não adianta observar,
se você não se mexer,
as coisas não vão mudar.
E até a esperança
vai cansar de esperar.

O mundo já lhe esperou
desde a hora de nascer.
Lhe apresentou a vida
e fez você entender
que se o problema é o homem,
o homem vai resolver.

Afinal, a gente nasce
sem trazer nada pra cá,
na hora de ir embora
o mesmo nada vai levar.
O que importa de verdade
é o que a gente vai deixar.


Joao Maria De Medeiros (Cordelista, cronista e educador)

VERSOS DE ANTÔNIO FRANCISCO SOBRE O CORONA VÍRUS



Quando eu tinha 7 anos 

Era esse meu castigo 
Ficar em casa trancado
com medo do papa figo 
Agora estou com 70 
E a careca cinzenta 
No meu quarto pesaroso
Sem poder sair pra fora 
Pois o papa figo agora 
Persegue mais o idoso. 

Antônio Francisco



TODO CUIDADO É POUCO

O novo corona vírus
Deixou o mundo virado.
Cheio de tanques de guerra
Canhão de ódio forjado
Mas pra este vírus forte
O mundo está desarmado.

Matou um monte de gente
Só num final de semana,
Fechou igreja e escola
Com uma fúria tirana
Matando gente e zombando
Da inteligência humana.

Mas vamos frear o vírus,
Não com bala de canhão.
Mas com pequenas medidas
Mas de grande precisão.
Lavar as mãos bem levadas
Com água limpa e sabão.

Evitar sair de casa
Mesmo para a padaria
Pegar o pincel da arte
Colorir seu dia a dia
E reler aquele livro
De contos que você lia.

Deixar d elado o abraço
E o aperto de mão.
É ruim, mas é preciso
Dessa estranha união
Ficar distante dos olhos
E perto do coração.

E quando o vírus passar
Que alguém gritar “passou!”
Vamos plantar esperança
No rastro que ele deixou
Para o amor germinar
E Deus do céu se orgulhar
Do homem que ele criou.

Poeta Antônio Francisco.








quinta-feira, 16 de abril de 2020

DIVAGAÇÃO PRÓ VIDA



DIVAGAÇÃO PRÓ VIDA

Pensei em Marcos vestido
De morte, com o seu talento
E o vozeirão aguerrido
Onde houvesse ajuntamento
Belos versos declamando
E à população clamando:
- Voltem pra o isolamento!

Com certeza causaria
No povo estremecimento
Muita gente atenderia
Teria o discernimento
Ao ouvir o forte brado:
- Para não virar finado
Fique no confinamento.

Um Zaratustra do além
Com firmeza e voz serena
Pela vida e pelo bem
Nas ruas fazendo fazenda cena
Enorme efeito faria
E em breve a gente veria
Todo mundo em quarentena.

(Gilberto Cardoso Dos Santos)


++++++++++++++++++++++++++

Imagine aí, eu e Gilberto,
Feito dois bons papangus
Recitando em céu aberto
E Invocando os urubus.
Eu disfarçado de morte
E ele como assistente,
Ia ter muito vivente
Persignado: credo, cruz!

Gilberto, vingador mascarado,
E eu com a foice na mão
Espantando os desavisados
Das ruas, do bar, do salão.
Vão pra casa meus amados!
Não convidem o inimigo,
Pois o Covid abre abrigos
A sete palmos do chão.

Ia ser um grande escarcéu,
Gente pulando pros lados,
Gente correndo ao léu,
Gilberto de orelha abanando
A velhinha que desmaiou
Com medo de tanta feiura
Ia ser uma tremenda pintura
Que nem Dante pintou!

(Marcos Cavalcanti)

domingo, 12 de abril de 2020

NOZINHO PEQUENO E SEUS ENSINAMENTOS - Por João Maria de Medeiros



Meu avô Nozinho Pequeno  e os ensinamentos que me deixou.

Bom dia, meu amigos, bom dia, minhas amigas!
Hoje, novamente volto a escrever, um de meus afazeres preferidos, mais agora nesta pandemia desgraçada, onde somos forçados a "ficar em casa" pela sensatez, por pensamos na nossa saúde, dos nossos familiares e pelos nossos verdadeiros heróis, os servidores do Sistema de Saúde.
Escrevo por prazer e, como sabemos, tudo que refletimos, que observamos dá um bom texto.
Num dia como hoje nascia Manoel Venâncio de Medeiros. Hoje faria mais de 100 anos se estivesse ainda vivo entre nós!
Além de ser meu avô materno, era irmão do querido Tio Dula (Paulo Venâncio de Medeiros), que vendia rapadura todo sábado, na feira, ali em frente à Vantajosa e era pai do  conhecidíssimo professor João de Dula e de Neta, funcionária da Prefeitura Municipal de Santa Cruz.
A família do meu avô é conhecida como um povo calmo, que não se estressa facilmente, nem  adquire inimizades. São pessoas de caráter, sensatas e de uma conduta invejável.  Sou suspeito em falar. Mas quem os conhece pode confirmar ou desmentir o que digo aqui.
Mas vamos voltar ao meu avô, Manoel Venâncio de Medeiros , mais conhecido como Nozinho Pequeno. Homem alto, magro e que gostava de tomar um aperitivo na hora do almoço. Desde pequeno que eu o observava, sentado ali na mesa de sua cozinha ao lado de minha avó. Nunca bebia mais que um gole grande da preferida dele, a "Pitu," com tira-gosto de bucho ou tripa de gado. Nunca vi meu avô bêbado ou falando coisas de bêbados. Isso me serviu de exemplo até hoje.
Por falar em exemplos, eu sigo ainda hoje muitos deles, observados por mim ao conviver com ele ou mesmo dados pelo meu avô.
Lembro - me como fosse hoje, num dia também de domingo, quando ele me  contou uma história de teimosia, que fiquei impressionado. Nunca a esqueci!
Dois senhores, um bastante estudado e sábio e o outro, bruto, insensato e ignorante, segundo meu avô,  pegaram uma teima tão grande, mas tão grande sobre um determinado assunto que entrou pela tarde inteira e só terminou quando, lá pra noite, cada um saiu chorando para suas casas, por não terem vencido a "batalha" mental.
Esta história ocorreu  onde meu avô nasceu , no  Sítio Impueiras, município de São Bento do Trairy.
No outro dia, o homem sábio e estudado procurou um compadre e lhe contou o acontecido do dia anterior e lhe  perguntou  se "tinha ou não razão".
Ao que o outro sábio falou:
- Compadre, sou seu amigo e sei da sua sabedoria e sensatez no que diz. Seu erro foi passar a tarde inteira, numa teima desnecessária com um homem bruto e ignorante como aquele!
Quando era vivo, escutei muitas histórias do meu avô, sempre me deixando muitos ensinamentos.  Hoje sigo muitos exemplos de vida dele.
Ele faleceu na cama, na casa dele, em paz, sem deixar um só inimigo, nem contas a pagar.
Sigo, como já disse, os bons  exemplos que me foram dados pelo meu avô. Mas na vida atualmente, com uma sociedade doente, cheia de maldades, há momentos em que deixo de seguir o  lado passivo dele, de evitar confrontos.
Infelizmente, é preciso sermos duros em alguns momentos, mesmo que venhamos a desagradar a alguém.
Mais ou menos o que disse Che Guevara:
 "Há que endurecer-se, mas perder a ternura jamais".


Educador, cordelista e cronista


sábado, 11 de abril de 2020

Mudança: Pontos e Contrapontos - Por Maria Goretti Borges



Mudança: Pontos e Contrapontos
Por: Maria Goretti Borges

Ao longo da história, o mundo nos foi apresentado de diversas formas, ora em caixinhas, ora em blocos, ora num todo. O mapa vai se configurando e tomando contornos mais nítidos a partir do discurso. Compreender a lógica do contexto e as entrelinhas do discurso, dentre outros fatores, é uma condição importante na análise do processo de mudança.
O discurso da mudança é também o discurso da contraposição, da tomada de decisões, das rupturas, inclusive internas. Não é possível analisar e compreender o todo sem as partes e vice-versa. Toda mudança requer coragem, desprendimento, consciência do eu e do outro – empatia! Nessa dinâmica, o contexto tem um superpoder, é o fiel da balança. É no processo e no contexto que o sujeito se revela.
O filme “O poço” retrata um lugar, prisão, onde pessoas com os mais diversos pecados (culpas) iriam para expurgá-los e consequentemente tornarem-se pessoas melhores. No entanto, essas pessoas mesmo coabitando um único espaço, sofrendo dos mesmos males, não se apiedam umas das outras, nem buscam soluções para seus problemas, pelo contrário, tornam-se cada vez mais miseráveis de si mesmas e do contexto. O sofrimento não as purifica. Com a chegada do personagem Goreng, com questionamentos e análises diversas, a trama vai tomando outros contornos.
               Os modelos de sociedade no quais estamos inseridos são cruéis e podem aniquilar a nossa percepção da necessidade da unidade, do entendimento do todo. Os discursos reproduzidos diariamente pelos meios de comunicação a serviço do capital, inebriam e entorpecem, e assim as possibilidades de mudança vão se tornando cada vez mais irreais.
               No contexto da globalização econômica, a China surge como um exemplo de produção com o menor custo (reserva de mão de obra) fortalecendo o mercado competitivo. A China passa a dominar os mercados consumidores e nos quatro cantos do planeta, inclusive no Brasil, encontramos produtos com a etiqueta made in China.  
Com o advento do novo Coronavírus, Eduardo Bolsonaro preocupado com os holofotes desfocados de seu clã, exatamente por não entender de saúde pública, dentre tantos outros assuntos, volta-se contra a China, chamando a Covid-19 de “vírus Chinês”.  Numa carta aberta dirigida a Eduardo Bolsonaro, o cônsul da China pergunta: “você é realmente tão ingênuo e ignorante?”.  “(...) você deveria saber que os vírus que causam pandemia são inimigos comuns do ser humano, e a comunidade internacional nunca chama os vírus pelo nome de um país ou região para evitar a estigmatização e a discriminação contra qualquer grupo étnico específico (...)”.  Quem mudou: Eduardo Bolsonaro, Li Yang, ou o contexto?
Dentre os defensores da globalização, o líder da nação mais rica do planeta, o Donald Trump, com vinte e três aviões a caminho da China, traz tudo ou quase tudo o que o mercado chinês tinha de equipamentos e instrumentos necessários para o enfrentamento do novo Coronavírus. Trump engole o discurso da globalização e arrota o individualismo mesquinho. O Tio Sam levou tudo, não deixou nenhum pouquinho para o seu amigo também americano, só que da América do Sul, o Messias Bolsonaro. No contexto atual, quais foram os parâmetros chineses:  valeu o quem dá mais, quem é mais influente no mundo dos negócios, ou quem tem mais representatividade na balança comercial do país?  Nem o novo Coronavírus foi capaz de ensinar à China comunista/capitalista um pouco mais de humanidade. Existem vidas além e todas importam sim! Será que como em O poço os pecados capitais irão aflorar ainda mais em tempos de Covid-19?  
Envolto em atitudes mesquinhas, o governo americano se utiliza do discurso “salvacionista” para justificar suas ações, vejamos: “Precisamos das máscaras. Não queremos outros conseguindo máscaras. É por isso que estamos acionando várias vezes o ato de produção de defesa. Você pode até chamar de retaliação porque é isso mesmo. É uma retaliação. Se as empresas não derem o que precisamos para o nosso povo, nós seremos muito duros”. A empresa 3M rebate Trump e diz que não vai interromper a exportação de máscaras para o Canadá e países da América Latina. Ao contrário da China, a empresa 3M respeitou seus parceiros comerciais e mostrou empatia com outros povos que estão sofrendo do mesmo mal. Em tempos de pandemia, dá para ser ético no processo de mudança (tomada de decisão) ou vale o salve-se quem puder?
Os homens adequam seus discursos às suas necessidades imediatas, esses homens detêm os mais diversos meios e metodologias para propagarem e exercerem seus poderes. No enfrentamento dos problemas, uns se acovardam, fogem das suas responsabilidades, abandonam os seus. Quem antes “curava” não cura mais... Alguma coisa mudou, ou nada mudou?
No filme O poço, retomando, os pecados capitais estão presentes. Como assim, um lugar tão restrito, com um público igualmente restrito? Isso mesmo, eles estão em todas as partes e lugares, estão em cada um de nós!
             O Messias brasileiro, por exemplo, tem se apoderado de todos os pecados capitais: avareza, quando propositadamente não agiliza o pagamento da renda emergencial aprovada pelo Congresso; inveja, quando não admite os méritos do ministro da saúde e não segue as suas orientações; ira, quando ataca os governadores e prefeitos por tomaram medidas necessárias para o enfrentamento da pandemia; preguiça, quando passa 28 anos no Congresso Nacional sem apresentar um projeto sequer; orgulho, por não reconhecer sua pequenez diante do problema vigente e recolher-se para não prejudicar o povo brasileiro; luxúria, por esbanjar nas compras com o cartão de crédito corporativo; gula, acostumar-se com o dinheiro fácil e introduzir os seus no mundo da política e tudo o que  dela advém .
Nessa gangorra encontram-se pessoas com atitudes desprezíveis e outras dignas de aplausos.  O Papa Francisco é exemplo de quão grande um indivíduo pode vir a ser. Francisco reza sozinho, não se sente menor por mostrar a praça São Pedro vazia. Não se sente ameaçado, enquanto papa, por escancarar a sua fragilidade humana, não diz ter a cura para o Covid-19, ora pelos cientistas, chama a atenção para moradores de rua da cidade de Las Vegas deitados no chão a céu aberto em espaços demarcados. O Papa Francisco acolhe refugiados por entender que são parte da humanidade, para ele o todo e as partes estão interligados.
Os bastidores da vida humana têm nos revelado pessoas com atitudes abomináveis e pessoas com atitudes admiráveis. Embora, as lentes dos olhares divirjam, os conceitos e valores sejam mutáveis, isso é fato. Adolf Hitler, advindo de uma guerra, apresentou seus ideais de mudança a partir de um projeto de segregação, de dominação, de superioridade de uma raça e teve o holocausto como desfecho. Nelson Mandela, motivado pela causa do seu povo, trouxe nos seus ideais de mudança a luta pela igualdade de direitos, pela liberdade, pelo respeito mútuo e teve o fim do Apartheid como desfecho.
Messias Bolsonaro, Jorge Bergoglio, Adolf Hitler, Nelson Mandela são figuras humanas que como tantas outras, compõem a história da humanidade. De uma forma ou de outra mudaram o curso dessa história. Biografias já escritas, outras em curso.       “Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?” (Titãs).
A fé múltipla é uma importante aliada no processo de mudança de cada individuo. Jesus, ao olhar para uma multidão de mais de cinco mil pessoas,  ao olhar para um cesto com cinco pães e outro com dois peixes, acreditou em si e no outro, acreditou que poderia saciar a fome daquelas pessoas, mas também acreditou que elas se sentiriam saciadas, acreditou nos seus discípulos, acreditou na disseminação da mensagem. Os milagres de Jesus não eram exibicionismo, eram mensagens de fé, seus atos tinham propósitos. Jesus não distribuiu riquezas acumuladas nem bens de produção, apenas ensinou a dividir o pão. Se não fizermos a lição (dever de casa), não foi ou é por falta de mestre. O mais provável é que sejamos alunos desobedientes, falta-nos fé.
A história continua sendo escrita e cada um de nós ocupará o seu lugar dentro ou fora da caixinha. No palco do mundo, com a peça “O novo Coronavírus”, vários atores se movimentam, com atitudes admiráveis ou com atitudes mesquinhas, cada um no espaço que lhe é permitido, estabelecendo as relações que lhes são possíveis, dentro de um espaço macro ou micro. Quem serão os atores principais, quem serão os vilões, os atores coadjuvantes, os figurantes, os espectadores nessa comédia da vida humana, não saberemos dizer, talvez no máximo, dar um palpite. A leitura do presente – livro em construção – será feita pelas gerações futuras.





Nesse momento de quarentena os professores do IESC mandam seu recado através da hashtag #EmCasa em suas redes sociais. Faça sua parte e proteja-se!




sexta-feira, 10 de abril de 2020

A ORIGEM DO CORONA - DEBATE EM VERSOS




A ORIGEM DO CORONA - DEBATE EM VERSOS 


Que a China criou o vírus
Ninguém nunca admitiu
Mas a gente só contrai
De alguém que já contraiu.
Quem foi que infectou
O primeiro que sentiu?

Enoc Manoel Santana

O primeiro que sentiu,
Segundo informações,
Comeu carne de morcego
Lá em outras regiões
E transmitiu aos demais
E a todas outras nações.


Os humanos comilões
Necessitam aprender
Que o apetite da gente
Moderado deve ser
Comidas exóticas deixe
Pra não morrer feito peixe
Nem tudo devo comer.


Com suas informações
A Lugar nenhum eu chego
Já faz tempo que o chinês
Vive comendo morcego
Só agora veio o vírus
Pra roubar nosso sossego

Medeiros

Eu não sei se morcego
Ou qualquer outro animal
Só sei que o coronavírus
Veio da China é real
Só sei que tirou me a paz
Eu já não aguento mais
Pois estou passando mal.


O corona fez emprego
Do vampiresco transporte
O morcego ferradura
Ferrou de maneira forte
Nem todo morcego traz
Este vírus que é capaz
De provocar nossa morte.


Sua resposta foi forte
Mas não encontrei sentido
Que esse tal de ferradura
Onde tava escondido?
Quer dizer que até agora
Inda não tinham comido?


Tal morcego tem vivido
Em diferente ambiente
Dentro de um ecossistema
Incomum a nossa gente
Pode ter um sabor jóia
Feito um cavalo de Tróia
Que nos traz cruel presente


A resposta novamente
Eu sabia que viria
É brincadeira da gente
Quando um cria o outro cria
Pra divertirmos o grupo
Poemas e poesia.


A Bíblia há tempos dizia
De tal comida não prove
Porém dizem que o chinês
Come tudo que se move
Quem nunca dele provou
Por fim também se ferrou
Com a covid-19.



O Novo Normal - Luzia Pessoa



O Novo Normal 

Estamos num mar de incertezas onde o pragmatismo vai precisar das sensibilidades. Recebo e também proclamo o "quando tudo passar " ... uma espécie de tentativa de palpar, retomar as nossas instalações de antes. Até mesmo as atávicas. Não há muita poesia para os excessos de medo do hoje. Gatilhos de toda espécie de perigo são fustigados à exaustão. Penso, incrédula, no "quando tudo passar" e chegar o nosso novo normal. Parafraseando Rosa: Como retomaremos o humano que brotou em nós depois da travessia desse rio sem terceira margem?

 Agorinha (dêitico) alguém comungou o sentimento de outro dizendo: pensei que somente eu estava assim... Não. Todos estamos vivendo coisas iguais dentro dos nossos universos particulares. 

Cá estou sendo outra, mesmo sendo a mesma. Faço coisas que não sei. Cometo imperícias domésticas e negligencio a arrumação do guarda-roupa conforme manda a lei do isolamento. Sou clichê na arte culinária. Faço bolos e pães. Tento amortecer os dias infindos. Mato as manhãs e leio Clarice:

"Podemos morrer sem o benefício do aviso prévio" 

Esses meus escritos são em vão. Não sei prever. Todo dia catapulto-me da cama e busco o equilíbrio. O contato com o mundo externo treme, ruge, quebra, estrondeia, sacode ...as notícias geram ansiedades que geram angústias que somatizam e adoecem sem nem precisar ter forma de coroa. 

Que pena não poder escrever coisas formidáveis! Acho que por muito tempo as lavas desse Vesúvio estarão quentes e nós buscaremos a toda hora jogar o verde para colher o maduro. Oxalá estejamos fortalecidos para esse novo normal e prontos para saber responder por conhecimento de causa: Para que serve um amigo?


Luzia Pessoa de Araujo 

quinta-feira, 9 de abril de 2020

APÓS O AFASTAMENTO SOCIAL - Por Júlio César, psicólogo




09 de Abril de 2020, véspera da Paixão de Cristo

Estamos entrando numa nova fase do enfrentamento ao COVID-19: o “isolamento social” em tempo de pico da epidemia.

Até agora estávamos no ritmo de “afastamento social”, aquele facultativo, quando ainda podíamos sair, ir e vir ao nosso bel prazer, mas na fase de pico epidêmico temos que tomar medidas mais drásticas, pois o vírus, antes invisível, já pode ser visto a olho nu nas estatísticas da nossa cidade, do nosso bairro e, agora, estamos entrando no “isolamento social”.

No isolamento social passamos a não apenas estarmos impedidos de sair às ruas, mas a voltarmos nossa atenção a nós mesmos, ao que é importante na nossa vida como nossos amores, nossos afetos, nossa sensibilidade, nosso “eu interior” com suas qualidades e seus defeitos. É quando estaremos convivendo, profundamente, com as pessoas que fazem parte integralmente da nossa vida, também com suas qualidades e com seus defeitos. Perceberemos que vivíamos virados de costas para a realidade e vendo apenas as sombras refletidas nas paredes da nossa visão.

A notícia boa é que essa fase, também, passará e em breve estaremos planejando como serão nossas ações, livres das amarras do isolamento e a má notícia é que não voltaremos ao normal (no sentido de que voltaremos a fazer tudo o que fazíamos antes).

O normal na nossa vida cotidiana será totalmente diferente do que fazíamos antes dessa pandemia. Agora sabemos que somos vulneráveis, que estávamos sós e não percebíamos, que necessitamos criar uma rede social ativa, presencial e não virtual, que o ser é maior que o ter e que tínhamos tempo, mas não nos dávamos conta disso e que o discurso da “falta de tempo” era uma forma de racionalizar o fato de que estávamos andando em círculos e não saíamos do lugar, que tínhamos muitas tarefas que não terminavam nunca.

Estamos dando conta de que temos centenas de “amigos” no Facebook e outros tantos contatos no WhatsApp e no Instagram, mas só conversamos com menos que 10 deles, que poucos nos chamam para tomar um café e bater um papo juntos – e presencialmente. Enfim, passamos a nos olhar com os olhos voltados para dentro e aprendendo a conviver conosco, com as pessoas que vivem na nossa casa e que quase não convivíamos. Sim, conviver é muito diferente de morar junto.

O novo normal na nossa vida será gastarmos menos com supérfluos, sermos mais solidários, sermos mais espiritualizados (mesmo sem ter uma religião), sermos mais amorosos e mais prazerosos.

Estamos percebendo, olhando para nós mesmos, que precisamos tomar uma posição ativa em relação ao nosso destino, estamos nos vendo fora da caverna em que vivíamos, ofuscados por uma avalanche de informações desencontradas e que mais confundiam do que esclareciam. Entretanto, essa nova visão está sendo intolerável para muitos de nós, pois está despertando a fera adormecida sob uma existência explorada, torturada e usada pelos poderosos, pois era preciso alimentar a fome de poder da elite dominante.

O novo normal encontrará um cenário social diferente, mais enxuto, mais claro, mais alegre, mais posicionado e, como tudo no universo é regulado pelo equilíbrio, esse cenário terá seu lado mais sombrio, mais violento, mais frio e calculista e cabe a cada um escolher qual cenário será predominante. Lembrem que só podemos dar aquilo que temos, portanto, se vamos dar luz, amor e alegria, temos que alimentá-los em nós ou daremos escuridão e violência se essa for nossa escolha.

Aguardemos.



segunda-feira, 6 de abril de 2020

NOVO TEMPO - Lindonete Câmara


NOVO TEMPO


Manhã do dia 03 de abril, em direção ao trabalho, atravessando as ruas desertas, refleti mais uma vez sobre a situação em que estamos mergulhados. Fiquei me perguntando: Quantas mudanças estão ocorrendo dentro e fora das pessoas diante desse vazio que o momento nos impõe? Logo respondi: Acredito que um rio de emoções, de pensamentos, sentimentos, sensações, percepções, de crenças e descrenças esteja fluindo diariamente do íntimo de cada uma delas e em mim. Veio um desejo: Espero que a humanidade esteja revendo os valores essenciais da vida para fazer diferente e proporcionar uma resposta sensata ao planeta terra, que ecoa por transmutações e implora por uma fonte expansiva de amor e luz.
 Lembrei do nosso desrespeito em relação ao universo e à maravilhosa natureza, sobre a falta de consciência de que estamos todos juntos num mesmo entrelaçamento de vidas e energias. Nessa perspectiva entendi que além do vírus em circulação, o egoísmo do ser humano, aliado com a ganância, competição, vingança, falsidade, entre outras terríveis atitudes têm ajudado a gerar esse confinamento, com o objetivo quem sabe de nos desconectarmos da sombra que tem adoecido o mundo.
Estive repensando sobre aqueles que continuam numa fase de negação do problema e continuam levando uma jornada “normal”. Mantendo o devido respeito à singularidade de cada indivíduo, indago o que se passa na mente de muitos, de acordo com os comportamentos adequados e inadequados frente a expansão da COVID-19.
Por um lado, imagino que hajam indivíduos rígidos que só acreditam no que veem em seu estrito lado e não buscam as medidas de proteção, se expondo, de forma irresponsável ou por pura ignorância frente às consequências de uma contaminação. Outros estão arraigados unicamente na fé e sem a compreensão das demais complementações existenciais que integram o ser humano. Muitos estão envolvidos apenas com as informações científicas sem a devida atenção a questão biopsicossocial e espiritual tão inerente a pessoa. Dessa forma, me chama a atenção o quanto é importante nos vermos por inteiro.
Neste sentido, ainda visualizo o quanto a humanidade precisa evoluir, cada um com seu processo individual e no seu tempo. Levando em consideração a paralisação mundial, percebo uma movimentação além do nosso limitado olhar clamando por transformações individuais e sociais. Mas, infelizmente, parece que a insensibilidade de alguns não consegue identificar esse chamado.
Sem julgamentos, com muito respeito e com intuito de ajudar, quero fazer um convite para silenciarmos por um instante. Convite este para adentrarmos numa dimensão construtiva e fidedigna conosco sobre a lição que devemos de fato aprender com esse ensino universal. Olhando profundamente para o nosso EU, perguntemos: O que preciso aperfeiçoar em mim? Não tenha medo de mergulhar na pessoa mais importante dessa vida: você. E se diante da sua profundidade emocional não conseguir processar o conteúdo exposto ou latente e desejar ser escutado por alguém, interaja de acordo com as suas possibilidades.
Vale salientar que nesse momento de estresse coletivo, nem toda sintomatologia apresentada se transformará num diagnóstico. No entanto, é preciso que seja reconhecida e processada com todos os cuidados possíveis. A livre expressão exteriorizará as preocupações, medos e todos os conflitos interiores trazendo leveza e ressignificação ao próprio ser nesse momento de sofrimento, e desde sempre. 
Esse novo tempo que intitulei nesse pequeno texto, de maneira prática, nos abre espaços para atentarmos às escolhas baseadas no bom senso, nas mudanças pessoais e na compreensão de uma nova realidade. O presente tempo é de insegurança. Então, se sentir vontade de chorar, chore. Lave não apenas as mãos e o corpo, mas também a alma. Quando as lágrimas cessarem, volte a sorrir com as coisas mais simples da vida, dê gargalhadas, se reinvente, faça algo inusitado, mesmo que as dificuldades continuem, valorize o que há de saudável em você.
Vamos nos conectar com a paz interior, com o amor e a solidariedade para salvarmos a nós e o planeta.

Lindonete Câmara, Psicóloga.

João Pessoa, 06 de abril de 2020.


Email: lin.dearaujo@hotmail.com

Adquira o livro Centelhas Poéticas, da autora, que será lançado após a quarentena