terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O PATO



O PATO (Troya de Souza)

Hoje alguém me perguntou
Qual a minha opinião
Se eu quero ser uma águia
Ou se quero ser um leão
Se eu quero ser um pato
Ou quem sabe um tubarão

De pronto falei o pato
Sem pensar em desistir
Pois sem muita pretensão
O pato sabe resistir
Se vira em toda opção
Rindo de quem insistir

O leão é rei na selva
Por lá manda muito bem
A águia domina o ar
Sem dar espaço a ninguém
E o tubarão nós mares
Igual a ele não tem

O pato não reina em nada
Mas não deixa a desejar
Anda faceiro na terra
Tem asa e sabe voar
E na água se desdobra
Também aprendeu nadar

O leão domina a selva
Mas não aprendeu voar
Tubarão reina nós mares
Mas não sabe caminhar
A águia domina os ares
Mas se afogar no mar

O pato literalmente
Parece todo enrolado
Não goza de agilidade
Só anda desengonçado
Mas nada, caminha e voa
Esse é seu grande legado

Os outros muito valentes
Com bastante eficiência
Mas se muda o habitat
Já mostram deficiência
E o pato supera os três
Com sua maledicência

Não queira ser muita coisa
Quem quer muito nada tem
Embora seja pouquinho
Mas seja o que lhe convém
Saiba que o pouco com Deus
Vale mais que o muito sem.

Troya Dsouza
Troya Dsouza

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

E/OU (Naílson Costa)


E/OU

A conexão humana
Anda sem frequência
Sinal, modulação,
Sem uma conjunção
Que una o diálogo perdido
Um termo conjuntivo
Que faça de novo a amarra
Das palavras na discussão
Um E, um OU, uma barra,
Uma cópula, conectivo,
Um elo alternativo
Como a onda do mar
Que vai, mas volta
E quebra na praia
Com determinação
Só pra beijar a areia
Mesmo a maré estando cheia
Ela faz a conexão.

A relação humana
Precisa, sim, dessa liga,
Uma cola, uma amarração,
Em que um pro outro diga:
“Respeito a sua opinião”
E restabeleça a frequência,
O módulo, o sinal,
Até na rede social
(Instragram, Whatsapp, Facebook)
Que cada like seja um look
Como aquele da onda do mar
Despido da maldade alheia,
Sem discriminação,
Sem pisar os grãos da areia
Com as botas da enganação.

Está uma onda essa moderna
Relação humana
Um “E...” sem sequência,
Com lacuna, ironia,
Um “OU...” com espanto,
Ameaça, agonia,
Tudo numa só algazarra,
Sinal sem frequência
Nem liga, está uma barra!

Aí, Brow, a discussão acabou!
Sem essa desse tal E
Com esse tal d’amarra d’OU
Hoje o bagulho é irado
A conjunção ficou no passado
A relação de hoje é insana
E tudo é devastação
E eis a conexão
Da nova relação humana!

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

DUAS CRÔNICAS NATALINAS DO JORNALISTA ROSEMILTON SILVA


É Natal!

Incentivados pelos nossos pais e pela esperança de Papai Noel nos trazer o presente desejado, vamos dormir cedo enquanto eles vão se divertir na barraca, mas velando o nosso sono de cidade de interior onde se pode dormir com a porta aberta sem qualquer sobressalto.
A cidade pequena dorme na esperança que todos amanheçam com seus brinquedos para se orgulharem do raiar do sol trazendo a luz o que Papai Noel deixou debaixo da rede, da cama ou mesmo ao lado de uma toalha que cobre o chão batido para o descanso do corpo.
Há aqueles pais que levaram alguns dias para construir um brinquedo de madeira, de lata, de tecido, de vários outros materiais. O que vale é que a criança tenha algo para mostrar na calçada e que ninguém se orgulha de ter um brinquedo mais bonito ou mais caro que dos demais.
E sempre vai ter alguém empurrando uma virola de pneu ou um pneu velho de bicicleta com um longo arame com ponta em U, como se fosse um carro a exemplo de uma lata de leite cheia de areia com arame passado por dentro e cordão para puxar. Ou mesmo uma bela baratinha feita de madeira e lata que tem até feixe de mola.
É claro que nem sempre deixa de existir um pouco de inveja ou olhar mais cumprido para um belo velocípede, uma bicicleta, uma boneca que fala ou canta, um carrinho mais sofisticado, enfim um brinquedo que nem sempre a grande maioria pode comprar.
Mas é claro que há aqueles que não receberam nada, mas mesmo assim não deixam de ir para a rua admirar os presentes trazidos por Papai Noel. Ah, não esqueçamos que algumas caixas contendo estes brinquedos até amanheceram sujas de mijo. Mas isso faz parte por mais cuidado que “papai noel” tenha colocado um pouco mais longe da rede.
Mas a vida ensina que há pessoas que se colocam no lugar das outras e oferece seu brinquedo para aqueles que olham com um ar de tristeza, não com inveja. E há também aqueles que esnobam seus brinquedos mesmo entre os que estão na mesma classe social.
E há ainda aqueles que não ensinam que o Natal é de Jesus e que os Reis Magos foram levar presentes simbólicos como o ouro que era um presente para um rei, o incenso olíbano para um sacerdote, representando a espiritualidade, e a mirra, para um profeta que era usada para embalsamar corpos e, simbolicamente, representava a imortalidade.
Vou dormir mais cedo para ver se papai noel, invenção de uma marca de refrigerante norte-americana, vai ser bonzinho ou não comigo, trazendo no seu carro de boi a esperança necessária para que o presente, seja qual for, lembre que o Natal é do Menino e que Ele é o nosso presente maior. E Viva o Menino Jesus!!!

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Noite feliz!

A tarde vai terminando com aquele céu azul sem qualquer nuvem e esperança de uma lua cheia que anuncia o Natal do Senhor e mais um ano que se avizinha com cara de esperança e de dias melhores!
A luz fraca dos postes e das casas começa a aparecer dando cor a noite ao som dos rádios ligados na Hora do Ângelus com suas orações de saudação ao Deus Menino que virá hoje para nos redimir dos pecados e a certeza de uma vida nova.
No pátio da igreja matriz está o palanque com seu cordão de luz para a festa de hoje a noite com as disputas dos cordões encarnado e azul que representam também as cores dos políticos da cidade e, por isso mesmo, promete ser uma disputa acirrada, já que no ano que vem tem eleição municipal.
A igreja já está pronta para a Missa do Galo que será lá pelas nove horas da noite quando o vigário irá anunciar o Nascimento do Senhor em latim com respostas dos seminaristas e cantos gregorianos do coral da paróquia.
Interessante porque a igreja vai estar cheia mas na hora do sermão com os bancos de cada família ocupado, no único momento em português, os homens deixam a igreja e ficam do lado de fora, algo que não se consegue explicar exceto pelo sermão que, aqui e acolá, o vigário passa lembrando as pregações de frei Damião.
Logo após a missa, todos que já jantaram com suas famílias vão se dirigir para a barraca onde um leilão coloca galinhas e outras prendas para serem arrematadas e assim ajudarem nas obras da igreja.
Mas o momento mais esperado é, sem dúvida, a chegada das meninas que vão dançar o pastoril. Vale lembrar que o pastoril do interior não conta com o palhaço do pastoril do litoral. O palanque está enfeitado com bandeiras de papel crepon e outros adereços que dão forma alegre ao local.
Também pode ser chamado de Lapinha dançada por meninas vestidas de pastoras, celebrando o nascimento de Cristo. As pastorinhas formam dois cordões: o encarnado, liderado pela mestra, e o azul, pela contramestra.
A Mestra, a Contramestra, Diana e borboleta formam dois partidos vestidos de cores diferentes, dois cordões disputam as honras de louvar Jesus Menino levando um pandeiro feito de lata ornado de fita com a cor do cordão a que pertence. Na cabeça, tiara com fitas e flores. Já nas mãos, pandeiros e maracás para casar com a cantoria e dar som à apresentação.
E lá vem as meninas com suas vestimentas entoando “Boa noite meus senhores todos / Boa noite senhoras também / Somos pastoras, pastorinhas belas / Que alegremente vamos a Belém...” E a barraca exulta de alegria enquanto não chega a peleja para os cordões encarnado e azul pararem ou continuarem dançando a partir da oferta de dinheiro.
Seguida da apresentação da mestra e contramestra e a borboleta que tem um canto mais lírico. “Borboleta pequenina / Saia fora do rosal / Venha cantar um hino / Viva a noite de Natal”. No que a borboleta emenda: “Eu sou uma borboleta / Pequenina e feiticeira / Ando no meio da mata / Procurando quem me queira.”
E a noite vai se prolongando mas mesmo com a disputa dos lados não há qualquer resquício de briga acirrada. Não há ressentimento enquanto as pessoas que ficam de fora da barraca vão comentar no dia seguinte quem mandou mais que o outro. E a noite do nosso Natal daqui a pouco vai ficar como a música “Silent Night”, uma noite silenciosa mas como diz a versão da música em português, vai se transformando numa Noite Feliz!!!



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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

DESAFIO EM DECASSÍLABO - Marciano x Troya


DESAFIO EM DECASSÍLABO

Marciano x Troya

Mote: Júnior Monteiro.

Pra vencer um poeta do seu nível
Nem preciso esforçar a minha mente.

Marciano Medeiros:

No tablado do verso me firmei
O trabalho que faço é importante,
Uma pulga ganhar pra um elefante
Esse fato eu ainda não notei.
Diga ao povo os ensinos que te dei
Se não vou te punir ousadamente,
Minha voz lembra mais o fogo quente
Que derrete um gabola previsível;
Pra vencer um poeta do seu nivel
Nem preciso esforçar a minha mente.

Troya Dsouza:

Muito pouco na vida eu estudei
Mas consigo ficar entre os melhores
Já venci fraco, médio, igual, piores
Qualquer um que me veio eu açoitei
Em você sei que ainda nunca dei
Por ser grande, correto e competente
Mas aqui hoje o tombo é diferente
Mesmo sendo para mim um invensivel
Pra vencer um poeta do seu nível
Nem preciso esfoçar a minha mente.

Marciano Medeiros:

Hoje aqui extermino esse rapaz,
Que resolve apanhar dum campeão,
O meu verso tem bala de canhão,
Vou cortar para sempre o seu cartaz.
Vai sair com destaque nos jornais
O massacre que fiz num inocente,
Um ratinho não ganha de serpente
Esse Troya no grupo é invisível
Pra vencer um poeta do seu nivel
Nem preciso esforçar a minha mente.

Troya Dsouza:

Marciano eu respeito os editais
Que em seu nome por aí altografados
tem diversos no mundo espalhados
Em recortes, revistas e jornais
Mas conforme o repente, os numerais
Sei você não é assim tão valente
Vai saber como eu sou inteligente
Um Mohanmd ali, quase infalível
Pra vencer um poeta do seu nível
Nem preciso reforçar a minha mente.

Marciano Medeiros:

Vou mostrar ao Brasil novo fracote,
Menor nome da nossa profissão,
Vou bater nesse cabra valentão,
Que não sabe sequer fazer um mote.
Um coelho não vence de um coiote,
Nem procure correr na minha frente,
Troya fala que é muito diligente,
Mas a pisa tonou-se previsivel;
Pra vencer um poeta do seu nivel
Nem preciso esforçar a minha mente.

Troya Dsouza:

Eu nasci pra rimar já trouxe o dote
E não me rendo a poeta vagabundo
Onde vou sou primeiro sem segundo
Cantador já conhece o meu chicote
Eu criei armadilhas pra coiote
E pra vencer a blefador prepotente
Você hoje provando o meu repente
Vai saber que eu sou indiscutível
Pra vencer um poeta do seu nível
Nem preciso esfoçar a minha mente.

Marciano Medeiros:

No repente sou forte e decidido
Pra bater num sujeito sem talento,
Improviso veloz igual ao vento
O combate colega está perdido.
Vou parar em respeito a um pedido
Que fizeram no zap ocultamente,
Pois na pista que tem asfalto quente,
Seu carrinho parou sem combustível;
Pra vencer um poeta do seu nivel
Nem preciso esforçar a minha mente.

Troya Dsouza:

Com você sempre estive convencido
Que és um bardo de inestimavel valor
Você fez muito cabra sofredor
Menestrel pelos palcos aplaudido
Mas topou um colega enraivecido
Deslizou, patinou, não foi a frente
Se pensou que eu era incompetente
Entendeu que eu sou indivisível
Pra vencer um poeta do seu nível
Nem preciso esfoçar a minha mente.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

POBREZA - acróstico


FLIPAUT, ENCONTROS E REENCONTROS NA PRAIA DA PIPA (autor: Gilberto Cardoso dos Santos)

Na sequência: Josiene Santos, Francisco Marinho, Jack e Gilberto Cardoso

FLIPAUT, ENCONTROS E REENCONTROS NA PRAIA DA PIPA (Gilberto Cardoso dos Santos)

Sábado, pela manhã, acordei numa pousada de nome Oásis, bem próxima ao litoral de Pipa. Todavia, apesar de sentir-me num oásis, não estava bem.

A noite anterior tinha sido maravilhosa. Participei do FLIPAUT, em sua décima edição. Encantei-me com  que o que vi. Conheci autores novos (Geffo, por exemplo),  reencontrei amigos, lancei meu livro e participei de uma ótima mesa redonda com Márcio Benjamin (um cara que escreve ótimos contos de horror inspirados em crendices do Nordeste), mediada por Marina, simpática filha do Jack d'Emília. Discorremos sobre "Oralidade Sertaneja na Literatura - As Estórias do Sertão e a Perpetuação do Imaginário Coletivo. Minha amiga Rejane Souza, educadora de destaque em Nísia Floresta, também deu um recado bem necessário para os nossos dias. Foi bom, também, rever Oreni com seu riquíssimo sebo e Cleudivan, com amostras da CJA. O Sebo Letra n'Ativa teve um diferencial: contou com um de seus autores para autografar obras. A noite foi maravilhosa,i maravilhosa, mas amanheci com disenteria.

Jack d’Emilia entrou em contato convidando-me a ir para uma palestra que seria ministrada por Francisco Fernandes Marinho. Disse-me que seria numa escola, perto dali. Valeria a pena, falou, mas deixou-me à vontade. Disse: “Senão, aproveite e vá tomar um banho de mar na Baía dos Golfinhos.”

Há algo melhor que tomar banho pela manhã na praia da Pipa? Não, a menos que haja uma palestra ministrada por Marinho.

Disse-lhe que não amanhecera nada bem. Achava-me no vaso, em pose semelhante à da escultura de Rodin, só que com um celular na mão. Teria sido a fatia de torta da noite anterior? Minha esposa achava que tinham sido as castanhas consumidas na viagem: cem gramas!

Jack lembrou-me que na escola onde ocorreria a palestra havia sanitários.

Um pouco antes das dez, rumamos a pé para o colégio. O italiano, radicado no Brasil há tanto tempo, não sabia muito sobre minha aproximação com Francisco Marinho em décadas passadas, tampouco do interesse que tinha em revê-lo após tantos anos. Seguimos, enquanto ele falava da importância daquele evento. Tratava-se do pré-lançamento de um livro intitulado ANTÔNIO JOSÉ MARINHO, O DEFENSOR DA NATUREZA NA PRAIA DA PIPA, a ser lançado em 19.01.2020 . O palestrante, dizia-me ele, era uma pessoa de grande importância intelectual, cultíssimo – um dos pouquíssimos brasileiros a ter acesso ao Arquivo Secreto Vaticano.

Quando chegamos à escola, foi aquela festa de reencontro! Marinho mirou-me com aquele sorriso que lhe é peculiar, fez todo afago, e disse: “Você é o Cardoso, de Santa Cruz, o poeta.”

A palestra foi muito interessante. Causou-me espanto saber que o tetravô de Francisco Marinho tinha sido um dos fundadores daquela comunidade, daí o duplo interesse dele em resgatar essa história, tão familiar. Como a personagem de Olhos nos olhos, de Chico Buarque, ele parece estar remoçando. De tão afeito ao giz, não se adaptou bem aos pincéis atômicos, disse-nos ao traçar uma árvore genealógica no quadro.

Estava ali, ao meu lado, o Jack, filho de Emília; o aventureiro que saiu da Itália ainda jovem, que havia se encantado com a informalidade e bom-humor do povo brasileiro. Notório o seu encanto pelo litoral brasileiro (primeiro morou em Ponta Negra, depois mudou para Pipa); também adora o Sertão. Frequentes são suas incursões pela caatinga; faz questão de ir só, acompanhado por um cão, pois teme que alguém entre em apuros por sua causa. Dessas experiências, extrai contos e crônicas. Parece-me, a julgar pelas coisas que aqui relato, costumeiramente preocupado com o bem estar alheio. Interviu, logo no começo da palestra, para lembrar aos presentes que, caso precisassem, a escola dispunha de bebedouros e de sanitários. Percebi que me mirou de soslaio ao finalizar a frase.

Não foram muitos os que compareceram, mas tivemos uma mini plateia seleta, vivamente interessada. Dentre estes, a atenciosa produtora cultural Josiene Santos.

Foi muito bom ter à minha frente, o grande Francisco Marinho, tão querido e admirado em nossa cidade (em administração anterior, foi convidado para ser secretário de educação em Santa Cruz, mas declinou do convite, devido viagens e pesquisas). Queridíssimo  em Pipa! Aliás, é figura de grande destaque no meio acadêmico do RN. Tem uma casa cheia de livros. Só de autores potiguares ele tem uns 20 mil, devidamente catalogados, fora o meu Um Maço de Cordéis - lições de gente e de bichos, que lhe foi presenteado por Simony Nôga. Mas não se espantem ainda, pois tem mais umas quarenta mil obras de autores diversos!

Ele não mede distância para conhecer acervos importantes. Jorge Luís Borges escreveu: “Sempre imaginei o paraíso como um tipo de biblioteca. Creio que para Marinho não seja diferente.  Na Bahia, em visita a um desses espaços, viu livros que, de tão antigos, haviam se petrificado. Literalmente, pensei, haviam virado tijolos do saber. Obras impenetráveis como os textos de Hegel, que ele adora tanto.

Fico a imaginar o prazer que sentiu ao ter acesso ao Arquivo Secreto Vaticano. Por duas vezes teve essa oportunidade. É um dos cinco brasileiros que tiveram tal privilégio!

O organismo febril deixou-me meio afoito e delirante. Comentei sobre a falta de dados sobre a população negra escravizada, também responsável pelo desenvolvimento de Pipa em seus primórdios. Também comentamos sobre os índios, decerto abundantes, antes que o processo civilizatório ali tivesse início. Todavia, como também pensa o Jack, a história contada é sempre a dos vencedores. É uma pena vermos tão pouco a respeito disso. Marinho e Jack adorariam saber mais e mais. Divaguei um pouco ao perguntar sobre os Mártires de Cunhaú e de Uruaçu. O sábio Marinho discorreu em profundidade sobre o assunto e teve certa dificuldade em retornar ao tema. “Falávamos de quê mesmo?”, indagou.

Pus-me a pensar naquele homem tão culto, tão professoral e interessado por livros que me falava do passado de Pipa. Ele não vive: ele lê e escreve, pensei. Sacrifica-se prazerosamente pela leitura e pela escrita. Vive altruisticamente. Adora pesquisar, catalogar. Além do que já publicou, há muita coisa iniciada, mas não concluída. Pesquisas importantes. Projetos grandiosos. Energia não lhe falta, mas o número de horas diárias não colabora. Valeria a pena, perguntei-me e uma vozinha interior citou Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”

O Jack parece não ficar muito atrás. Disse-me que lê e escreve todos os dias. Seu interesse pelos livros não deixa margem a dúvidas. Há anos organiza o FLIPAUT, criado como alternativa ao FLIPIPA. Este último faliu, enquanto o FLIPAUT está mais firme que nunca, em sua décima edição. Vários meses são dedicados por Jack à preparação desse evento que não tem fins lucrativos. Evento magnifico que jamais deverá morrer. Josiene Santos, prima do palestrante, dá valiosa contribuição ao evento.

Voltando à palestra: Marinho contou a história de Antônio da Silveira Mariante Castelo, um português que aportou em Pipa no passado distante e apaixonou-se por uma jovem extremamente linda, a Rita Gomes de Abreu; ela varria um terraço quando a viu pela primeira vez; de tal modo ele se encantou por ela que, de imediato, a pediu em casamento e ajustou o enlace para dali a seis meses! Voltou a Portugal e deixou Ritinha à espera, vítima da indiferença de uns e descrença de outros, mas cheia de expectativas positivas quanto ao cumprimento da palavra. Os seis meses se arrastaram, e o noivo não voltou para cumprir a promessa. Pobre Rita! Se antes diziam que era tola, muito mais agora. Marinho encontrou no livro um trecho bem romântico e o leu para a gente.

Disse-nos que, conforme colhera dos mais velhos, todos os dias Ritinha subia o Morro da Ponta da Praia da Pipa na esperança de ver alguma embarcação a cruzar o Atlântico, vindo em sua direção. Seis dias após a data combinada, o noivo chegou trazendo explicações convincentes para o atraso e pedindo mil desculpas. Ritinha não fazia ideia do quanto ele se esforçara para chegar a tempo. Casou e ali mesmo, ao pé do Morro, fixou residência com sua bela Rita. Pensei comigo: isso dá um bom cordel.

Por falar em cordel, descobri na palestra que o avô e o pai de Marinho também haviam escrito alguns. Li uns três na boneca do livro. Minha surpresa só crescia. À noite, no evento do FLIPAUT, viria a descobrir que sua irmã também é cordelista (ao menos um tinha, exposto no FLIPAUT, para distribuição gratuita)! Ele próprio, também, é poeta. Autor, aliás, de um poema que circula o mundo, traduzido mais de 100 vezes! Vejam-no como originalmente foi escrito... 

SOLIDÃO

Um dia
O meu coração
Me deixou adormecido
Saiu
Caminhou sem passos
Encontrou em cada ser
Uma igualdade desigual

Voltou
Adormeceu
E nunca mais quis
Deixar-me
Adormecido.

F. Fernandes Marinho

... e em Holandês:


EENZAAMHEID

Op een dag
verliet mijn hart
me ingeslapen
ontweek
wandelde zonder te lopen
ontmoette in ieder wezen
een ongelijke gelijkheid

keerde terug
sliep in
en wild me nooit
mer verlaten
ingeslapen.

Tradutor: Egbert Ocevarde


O Jack cumpriu uma promessa feita meses antes. Deu-me um livrinho de sua autoria que tem tudo que há num cordel, menos a métrica e a rima. Acima do título – ASTRONOMIA INDÍGENA, O Setestrelo – está escrito Literatura de Cordel. Definitivamente, ele é um fã do gênero. Na capa, temos uma xilogravura extraída do livro de Hans Staden, um alemão que relatou minuciosamente sua experiência de ser quase comido por índios brasileiros; o formato e o número de páginas também correspondem aos de um cordel. A única diferença é que foi escrito em prosa, conforme já se fez na Europa quando o cordel estava em fase embrionária, quando a designação “hojas” ou “pliegos” de cordel designavam mais o suporte que o gênero. Vemos, nesse seu opúsculo tão bem escrito, outra de suas grandes paixões: os índios. Diz-nos ele que esta obra é o resultado de suas muitas andanças e acampamentos pelos sertões do Vale do Assu. Tais incursões e dormidas à luz do luar, em situações similares às vividas pelos índios que ali habitaram, atiçaram sua curiosidade em pesquisar sobre a cosmologia indígena.

Eram 12 horas e a palestra não havia terminado, pois ficávamos instigando o orador. À semelhança do Antônio Castelo, não cumpri à palavra dada a minha Rita. Àquela altura já deveria estar nalgum restaurante chic, num dos mais caros de Pipa – ela me dissera que pretendia ter o que ela chama de "momento extravagância" naquela viagem.

Marinho prosseguia, aberto às intervenções. Cada frase parecia um hiperlink tentador.

Às doze e uns quebrados, saímos eu e os dois pesquisadores no rumo da pousada. Conversa interminável, de interesse mútuo. Deixamos Jack em um supermercado. Surpreso, deparei-me com a casa da mãe de Marinho, vizinha à pousada onde eu estava. Ele disse-me que ali ficaria. Comunicou-me que logo iria dar uns mergulhos.

Fiquei a perguntar-me se seria na praia ou nalgum livro.

Foi muito bom conhecer de perto o Jack, trocar ideias com o Márcio Benjamin e rever o amigo Marinho. São figuras dignas de todo respeito e admiração.



Santa Cruz, 16.12.2019



 Simony Nôga, presenteando Marinho com meu livro




Foto tirada pela educadora Rejane Souza




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HOME, AGRIDOCE HOME (autor: Gilberto Cardoso dos Santos)



HOME, AGRIDOCE HOME (autor: Gilberto Cardoso dos Santos)

1
Conheci há algum tempo
Um grande documentário
Intitulado de HOME
Um vídeo extraordinário
Que em tom solene e perfeito
Mostra o que o homem tem feito
Ao sistema planetário.
2
Dura quase duas horas
Mas vale a pena assistir
Mostra imagens do planeta
Que nos fazem concluir
Que se o homem não mudar
Iremos nos acabar
Nossa espécie irá sumir.
3
Home é a palavra inglesa
Que significa lar
Se o planeta é nossa casa
Dele é preciso cuidar
E parar de destruir
Pois se o planeta ruir
Onde é que iremos morar?
4
Com imagens de satélites
Home mostra a terra inteira
No seu estado caótico
Do deserto à ribanceira
Os incêndios florestais
A extinção de animais
E a espantosa sujeira.
5
Home expõe aos nossos olhos
Cenas impressionantes
Mostra o mar varrendo costas
Com suas ondas gigantes
Furioso derrubando
destruindo e expulsando
Os humanos habitantes.
6
Todos devem assistir
Tão belo documentário
E deixá-lo ecoar
Dentro do imaginário
é hora de dar um basta
Na destruição nefasta
Seguir no rumo contrário.
7
Muita gente já chorou
Enquanto estava assistindo
A miséria que restou
Num mundo que foi tão lindo
É essa a missão de HOME
Mostrar a dor e a fome
Que ao mundo estão destruindo
8
Maior apelo não há
Em favor da ecologia
Mostra que rumos tomar
Nas ações do dia a dia
É tão sensacional
Que a imprensa mundial
Propagá-lo deveria.
9
O útil documentário
Não tem fins comerciais
Conheça o Lar onde estamos
Veja os pontos cruciais
Os dramas do mundo inteiro
O relato é verdadeiro
E as imagens bem reais.
10
Faça você sua parte
Assista-o primeiramente
Divulgue nas suas redes
Mensagem tão comovente
Precisa ser conhecida
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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O ERRO DA EMANCIPAÇÃO (Gilberto Cardoso dos Santos)


Artistas que se apresentaram no evento (Diego, eu, Liane, Hélio e Andressa)

O ERRO DA EMANCIPAÇÃO (Autor: Gilberto Cardoso dos Santos)

Não sei o que aconteceu
Ontem eu tava atrapalhado
Quando 5 horas deu
Saí da escola apressado
Minha esposa fui buscar
Fui pra casa me arrumar
Banho evitei tomar
Pra não chegar atrasado.

Disse a esposa: que vexame!
Pra que tanta agitação?
Vai fazer algum exame
De próstata na ocasião?
Lembre-se que a pressa mata
E eu disse não seja chata
Santa Cruz mudou a data
De sua emancipação.

E eu não posso me atrasar
Vou declamar poesia
Prometi a Edgar
Que neste evento estaria
Era em 30 de novembro
Mas mudou para dezembro
E muita gente eu me lembro
Tal erro já percebia.

Disse-me ela: Se arrume
Mas num vai dar certo não
Pois sujeira com perfume
Faz péssima combinação
Disse mais: Você se estressa
E numa carreira dessa
Parece esquecer que a pressa
Não conduz à perfeição.

Eu não lhe disse mais nada
Na minha moto montei
Na banguela, em disparada
A ladeira atravessei
Acelerei com destreza
Mas para minha tristeza
Tive uma grande surpresa
Quando no Santá cheguei.

Lá não havia ninguém
 E eu fiquei preocupado
E perguntei para alguém
Que tem um comércio ao lado
Se Hélio tinha aparecido
Se algo tinha acontecido
Se o evento tinha havido
E já tinha terminado.

E ele falou: Camarada
É do meu conhecimento
Que hoje não vai haver nada
É amanhã este evento
Hoje é dez, preste atenção
A data da emancipação
É onze, meu cidadão
Melhor ficar mais atento.

Tal como os que escreveram
A história da região
Grave erro cometeram
Erraram na datação
Eu também me atrapalhei
E grande mico paguei
Adiantado cheguei
Para a comemoração.


Santa Cruz, 11.12.2019