segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

A VALE NÃO VALE NADA - Adriano, Gilberto, Zenóbio, Hélio, Cláudia


A VALE NÃO VALE NADA

Sedenta pelo poder,
Por dinheiro e muita fama
A VALE fingiu-se cega
E agora vem fazer drama.
Do que adianta? Me fale!
Quem valia, já não vale
Perdeu a vida na lama.
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Avalie o grande drama
Dos que estão a padecer
Literalmente na lama
Sem barragens pra conter
O drama que estão passando
Os políticos embromando
E Brumadinho a sofrer.
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Quantos mais hão de morrer,
Nesse vale de agonia?
Pra que se possa saber,
Quanto vale a tirania!
A vida cobra o encargo,
De quem fez ficar amargo,
O que já foi doce um dia.
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Arrogante e alma fria
O homem segue inclemente
Feito um escravo do ouro
Ceifando o meio ambiente
Alheio a todo esse drama
Enterra a vida na lama
D’uma forma inconsequente
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Bate o martelo potente
No leilão da hipocrisia
O poder é o cutelo
Que a morte sentencia
A provar impunemente
Que a vida humana inocente
É moeda sem valia.
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Em meio a lama sombria
Gritos de dor e tormento
Enquanto a VALE lamenta
O rombo em seu orçamento
Nem a vida se equivale,
Para ela menos vale.
Mais vale o faturamento.
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Algo digno de lamento,
Com muitas vidas ceifadas.
São falhas reincidentes
Sem punições adequadas.
Provam estas concessões
Que as privatizações
Precisam ser repensadas.
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Famílias dilaceradas
Pela lama da cobiça
Como vítimas do acaso
Sem respaldo da justiça
Que de forma desumana
No caso de Mariana
Tem se mostrado omissa.
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Mariana e Brumadinho,
tristes destinos iguais:
Os dois, vão pagando o preço
da tristeza dos seus ais;
e a ganância dos minérios
fez deles, dois cemitérios
da rota dos lamaçais!



Francisco Garcia


sábado, 19 de janeiro de 2019

RESMUNGOS DA NATUREZA - Hélio Crisanto


RESMUNGOS DA NATUREZA


Clama toda a bicharada
Na estupidez da seca
Um bem-te-vi na galhada
Belisca uma fruta pêca.
O canto da seriema
Até parece um poema
De tristeza e de lamento
Cantando em cima do morro
Um concriz pede socorro
Contando o seu sofrimento

O sol aceso inclemente
Secando os mananciais
Não se vê uma semente
Nas copas dos vegetais
Um teiú cheio de mágoa
Sem ter um gole de água
Mata a sede num pinhão
Naquele mato esquisito
Um sabiá solta um grito
Como quem teme o verão

Um rio morto em seu leito
Tece o caminho da cruz
Geme um burro insatisfeito
Com medo dos urubus
Ao notar a mata extinta
Uma cobra já faminta
Se arrastando cambaleia
Numa tristeza tamanha
Sozinha uma triste aranha
Sem esperança vagueia

No lamaçal de um barreiro
Sobrevoa um passarinho
Em meio aquele braseiro
Volta com sede pro ninho.
Uma rolinha tristonha
Devido à seca medonha
Não esconde a sua dor
Além da seca renhida
Tem que viver escondida
Pra fugir do caçador

Nessa estiada alarmante Chora um anum desolado Num angico da vazante Um carão triste e calado Envolto ao triste cenário Um gavião solitário Se coça numa porteira Vigiando os matagais Procura restos mortais Espreitando uma caveira A raposa numa gruta Uiva de tanta tristeza Em todo canto se escuta Resmungos da natureza O som triste da cigarra Se ouve ao quebrar da barra Causando desolação Anunciando os flagelos Desmoronando os castelos Do morador do sertão.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

IRANI MEDEIROS, BIÓGRAFO E POETA - ENTREVISTA


Entrevista concedida a Gilberto Cardoso dos Santos



GCS: Caro Irani Medeiros, comece essa entrevista respondendo-nos à pergunta: Quem é Irani Medeiros?

Irani Medeiros é poeta, escritor, pesquisador e biógrafo. Nasceu na cidade de Paulista, Estado da Paraíba, em 1961. Filho de Valdemar Garcia de Medeiros e Jesumira Nemesia da Silva. O pai era de Seridó do Rio Grande do Norte, nascido em São João do Sabugi e a mãe paraibana de Paulista. Nasci num povoado de nome Mimoso já na divisa de Estado, próximo a Serra Negra do Norte. Aaos 14 anos saí do Mimoso para estudar na cidade de Pombal, terra do grande poeta popular Leandro Gomes de Barros.

GCS: Fale-nos de suas raízes familiares, geográficas e culturais.

Minha família por parte de pai vem do Rio Grande do Norte, mais precisamente do Seridó. Minha família pelo lado do meu pai compõe-se de poeta, médicos, músicos e escritores. Nasci no sertão, terra de muitos encantos e também de muita luta diante das adversidades do clima e outras intempéries, isso com certeza deu-me a condição de tornar-me um poeta favorecido pela paisagem, pela fauna e sobretudo o encanto com os rios quando no inverno.

GCS: Você tem um significativo número de livros publicados. Apresente-nos sua obra.

Tenho 18 livros publicados sobre os mais variados temas, sobretudo na literatura popular. Já escrevi sobre Belarmino de França, Josué da Cruz, Pinto do Monteiro, Chica Barrosa, Fabião das Queimadas, Leandro Gomes de Barros, Augusto dos Anjos e na poesia tenho livros publicados por Editoras nacionais e alguns poemas transformados em música e alguns outros traduzidos para o espanhol, francês...




GCS: Como aprendeu a ler? Quando viu nascer seu amor pela leitura? Que obras marcaram sua formação inicial?

Aprendi a ler inicialmente com um professor particular contratado por meu pai. Acredito que na verdade aprendi a ler através dos folhetos de feira que eram adquiridos nas feiras livres do sertão, isto com certeza despertou a minha vontade em aprender a ler.



GCS: Quando foi despertado em você o desejo de ser escritor? O que escrevia quando começou?

Sempre fui encantado pela leitura. Quando comecei a escrever era muito incipiente o que escrevia como poesia, depois fui melhorando com as varias leituras de outros poetas, principalmente lendo Augusto dos Anjos.

GCS: Sente-se realizado com o que já produziu ou acalenta um sonho de algo mais?

Sinto-me até certo ponto realizado com o que já produzi na literatura, pretendo continuar escrevendo algo mais e que eu posso ter reconhecimento além do que conquistei dentro e fora do país.

GCS: Você tem se dedicado à produção de obras biográficas. Que autores lhe serviram de inspiração?

Vários autores que se dedicaram a escrever biografias. Atualmente leio muito Lira Netto.

GCS: Cite algumas biografias lidas que você considera excelentes.

Li as biografias de José Saramago, Jorge Luiz Borges, Simone de Beauvoir, Glauber Rocha, Tim Maia, Nelson Rodrigues, entre outras.

GCS: Além de ser biógrafo, você é poeta. Já pensou em lançar um livro de poemas? Por que não levou à frente tal projeto ainda?

Tenho um livro de poesias lançado por uma editora da Bahia, intitulado O último Café Noturno, publicados pela Mondrongo e distribuído nacionalmente.


GCS: Brinde-nos com um ou mais de seus poemas.

Sobre os arcos da morte
Musgo e silêncio
Nos altares da sombra.

Na carne e saliva
De um Pégasus
Um galope alucinado
Na geografia dos abismos.

Sobre os arcos da morte
Sal e aço
No escuro rosário das ausências.

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SER(TÃO) O sertão é uma metáfora do sol, uma paisagem de solitários caminhos. O sertão é galope, um mergulho na caatinga e nas raízes de velhos umbuzeiros. O sertão é uma canção nos búzios de pedras temperando as lágrimas de uma mãe sertaneja. O sertão é uma muralha de macambiras na solidão das folhas da noite O sertão é um verso letal na tênue luz de um lampião. O sertão é sol e luar no hálito das folhas secas O sertão é a alma do vento agitando os braços dos mandacarús. O sertão é o verbo e o procriar das sementes. O sertão é esforço e magia de viver nas terras de dentro. O sertão é uma diáspora no casulo do tempo! 15.01.19. Irani Medeiros.

GCS: O que é poesia para você?

Poesia é vida, sentimento, sensibilidade e uma filosofia de vida no santo ofício da palavra.

Que poetas lhe servem de inspiração?

Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Bandeira, Luiz Carlos Guimarães, José Chagas, Zila Mamede, Neruda, Vicente Hiliodoro, Gabriela Mistral, Federico Garcia Lorca, entre outros.

GCS: Como você costuma escrever? Que horários e locais lhe parecem mais propícios? Trata-se de uma atividade diária? Você tem compulsão pela escrita?

Não tenho um horário pré-determinado para escrever, sobretudo poesia, ele vem a qualquer a hora e tenho que andar sempre com papel e uma caneta. Quanto as pesquisas e outros escritos escrevo mais a noite.

GCS: O que lhe parece mais difícil no exercício da escrita?

O exercício da escrita não é nada fácil, tem que ter um certo talento aliado à transpiração que com o tempo o escritor vai definindo um estilo próprio de escrever.

GCS: Qual o seu nível de adesão à leitura digital? Acha imprescindível o livro de papel?

 Prefiro ler pegando no papel, folheando página por página.

GCS: O que significa ser escritor em um país com tão grande número de analfabetos funcionais?

É uma condição não muito boa diante destas dificuldades e ainda por cima pelo fato de termos um mercado editorial muito complicado. O autor aqui sofre muito com a questão de direitos autorais. No Brasil não se vive propriamente de venda de livros. É lamentável essa situação, visto vivermos e produzirmos literatura num país tal rico e diverso culturalmente.

GCS:  Que autores, em prosa ou verso, nos recomendaria?

Carlos Drummond, João Cabral de Melo Neto, Augusto dos Anjos, Leandro Gomes de Barros, Zé Lins, Zé Américo de Almeida, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos.

GCS: Qual de suas obras lhe rendeu melhores resultados?

No Reino da Poesia Sertaneja, Fabião das Queimadas, Pinto do Monteiro.

GCS: Gostaria que nos indicasse alguns filmes.

Memória do Cárcere, O ano do Desaparecimento de Garcia Lorca, Dr. Jivago, Meia noite em Paris.

GCS: Por quais pensamentos ou aforismos busca nortear sua vida?

Melhorar a minha escrita que é sangue e é vida.

GCS: De que meios pode valer-se o leitor para entrar em contato com você?

Pela internet – Irani Medeiros no Facebook ou pelo e-mail: medeirosirani@gmail.com ou pelo celular: 83 98714-0954.