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domingo, 12 de agosto de 2018

AQUELAS IDEIAS... - Cecília Nascimento


A semana inteira Ela se fez morada de ideias; elas vêm de todos os lugares, quer planos, quer incertos. As mais instáveis rompem seus espaços inconscientes e fervilham toda noite, quando o barulho do relógio não a deixa esquecer que a existência é essa obrigação palpável da qual não se consegue evadir sem algum ópio... Logo Ela, que a nada provou... Logo Ela se vê lucidamente habitável por certas ideias inconvenientes que persistem em visitá-la tão logo os ponteiros do relógio conquistam atenção no seu soturno silêncio do seu lar... Lá onde tudo anda sempre em ordem, menos o essencial...
E por fazer-se morada de ideias impertinentes, algo nela a impele para a solidão dos raros espaços de sua pequena cidade em busca de desaguar, visto ser Ela própria algo como uma espécie de represa pseudo contida; um mar d'água até bonito de se ver por fora, mal transparecendo o assombro das forças que ali dentro contrastam, os impulsos que aquelas ideias alimentam, os freios que o super ego impõem em meio a sorrisos sociais destinados a dissuadir seu próprio inconsciente da consciência dessa odisseia emocional.
E nessa busca por lugares ermos, ora no Alto, ora no Parque, Ela dribla os transeuntes com suas necessidades de interação e por mais que não encontre vazios adequados à solidão, sua distração dá conta da necessidade e o cenário que for lhe convida a divagar. Dali, cada ideia se liberta, abandona aquela morada apertada e vai se encontrar no ouvido de alguém, numa mensagem de celular, na legenda de uma foto, na declaração prontamente arrependida, no desabafo apressado, numa sala de aula, quando o poema analisado dá conta da sua inquietação, na conversa com um amigo, no clamor de uma oração e, algumas vezes, numa crônica, como esta que está se escrevendo sozinha, enquanto Ela se esconde dos sorrisos felizes que infestam de selfies as redes sociais neste domingo dos pais.
Não foi desta vez que essa represa rompeu. No entanto, que se rompam certos silêncios para que Ela encontre, ainda que em meio ao tumulto dos lugares ou ao assédio noturno do relógio, a serenidade de quem sabe ser intensa sem se afogar... Cecília Nascimento 12/08/2018

No alto... Pra baixo...

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