segunda-feira, 29 de outubro de 2012

UM GAROTO CHAMADO RORBERTO - Gilberto Cardoso dos Santos


Reflexões sobre o livro Um garoto chamado Rorberto,  de Gabriel o Pensador.

   O livro Um garoto chamado Rorberto contém a história de um menino cuja vida tinha fortes motivos para não dar certo. Filho de pais pobres e analfabetos, recebeu um nome “errado”, esdrúxulo; além disso, nasceu com anomalia em uma das mãos – um dedo a mais. À medida que vai se tornando cônscio de suas imperfeições – principalmente do dedo a mais - passa a temer o não ser aceito pelo grupo e busca ocultar seu problema.
    O que vemos, porém, é que nenhum de seus temores vem a se concretizar. A partir de uma abordagem correta dos problemas por parte da professora, o grupo passa a ver razões para admirá-lo e a desejá-lo na turma. Não veio a se tornar alvo de bullying. Encontra razões para aceitar suas próprias diferenças e até a vê-las como qualidades.
    A ideia de que o pensamento infantil tem estreita ligação com a poesia e mantém similitudes com o pensamento selvagem – tema que foi objeto do ensaio de José Paulo Paes sobre a infância e a poesia¹ – aparece diversas no texto de Gabriel. Ao descobrir ter seis dedos em uma das mãos, o protagonista abre-se para a possibilidade de ter dedos a mais ou a menos na outra; os colegas, também, expressam esse tipo de pensamento quando, inicialmente, envolvem suas mãos com sacos, à semelhança de Rorberto, a fim de melhorar a letra; depois, quando concluem que o fato de ter seis dedos dava maiores possibilidades de aperfeiçoar a grafia.
    Vemos no protagonista e em seus colegas uma maneira de descobrir o mundo e encarar a vida que os predispõe à poesia.
    O texto poético contém partes dos versos escritas em negrito. Aliás, não há uniformidade nisto. A própria predisposição do texto e variações acaba influindo positivamente na compreensão do leitor, como no momento em que parte aparece escrito em letra cursiva. As partes em negrito correspondem aos versos (na totalidade ou em parte) em que ocorrem as rimas e lembram muito o rap – estilo em que o autor se notabilizou. No rap, quase sempre as partes que rimam recebem um destaque vocal; seja através de alterações no volume vocal e/ou entonação ou pelo acréscimo de vozes. O narrador em 3ª pessoa parece refletir isso no texto.
    O livro, farta e belamente ilustrado por Daniel Bueno a partir de recortes de mapas, cadernos e páginas coloridas, expressa bem a origem pobre e as dificuldades vivenciadas pelo personagem em sua vida e processo de aquisição da escrita. Dá a ideia de reciclagem, do aproveitamento requerido em situações de penúria.  
    A escola ocupa espaço central na narrativa e foi determinante na (trans)formação do Rorberto que, logo no início da novela, aparece querendo ensinar seu pai a ler e escrever. A atitude louvável da professora, determinante no comportamento da turma e altamente eficaz no posterior desenvolvimento do menino, merece a reflexão de todos os que lidam com educação. Foi a partir da “palavra certa no momento certo” da professora que a mão-problema tornou-se mão-solução, na escola, na turma e no campo de futebol.

Citações:
¹PAES, J. P. Infância e poesia. Caderno Mais! Folha de São Paulo, 9 agosto. 1998, p. 5-

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