quinta-feira, 24 de novembro de 2011

UMA CRÔNICA PAIXÃO - Nailson Costa

 

            Sempre quando passo defronte ao Instituto Cônego Monte alguma coisa acontece em meu coração. Lembro-me dos meus primeiros traços, letras e desenhos que eu fazia no jardim de infância desse colégio. A calça verde e a camisa branca parafraseavam a grandeza de minha esperança e a pureza mais alva de meus sentimentos.
            Lá estudei por sete anos. Por pertencer à igreja católica, o Instituto também era conhecido pelo cognome de Colégio do Padre. Foram anos de muita dedicação, pesquisa e superação. Digo que, a despeito das muitas teorias educacionais que condenam o ensino tradicional e o autoritarismo, o Cônego Monte, nos anos de 1969, 1976 a 1980, permitiu-me viajar nas cores de meus voos futuros.
            Ao passar defronte a ele, ainda consigo ver, na imponência de sua estrutura física, a grandeza dos meus mais belos sonhos. Às vezes paro e contemplo o majestoso teatro em estilo neoclássico que hoje só existe nas minhas mais doces lembranças.
 Muitas vezes ouço as vozes do Instituto Cônego Monte. Dou-lhe atenção e nesse momento passo a ser seu melhor confidente. Lembrou-me ele, um dia desses, das mordaças do tempo dos generais que muito o incomodavam. Falei-lhe de um certo Capitão Ricardo, vizinho seu dos tempos de ditadura. E rimos e fomos felizes.
            Volto à realidade e as portas fechadas do Instituto Cônego Monte, sem brilho e sem vida choram com a minha despedida. São minhas também as suas lágrimas.
            O Periquito, apelido maldoso que a inveja dos incapazes lhe atribuíram, na verdade era um Condor para aqueles que por lá passaram. Muitos voos foram por ele ensinados e muitas mentes levadas às alturas.
        O Instituto era realmente uma ave. E, do alto monte de meus incipientes sobrevoos profissionais, amparou-me por catorze anos em suas grandes asas.
            Hoje vejo que as aves reais sempre batem suas asas em direção ao infinito. Sinto que os bons tempos favorecem às nuvens seus melhores desenhos e um coração alado começa a surgir.
            É o Instituto sempre em meu coração na mais real das grandes ficções. Espantar-se-ia o mais capaz mago das criações ao ver essa escola com vida própria, sem imposições reacionárias ou religiosas, livre, leve, solta, a desenhar voos no céu dos meus sentimentos.
             Na verdade, os desenhos se fazem ave a cada instante de minha filosofia educacional. E voa e pousa e canta dentro de mim.
            Passo defronte ao meu Instituto e o vejo ali piscando para mim e fazendo suas as sábias palavras do grande Quintana: “Estes que estão atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho.”
            O Cônego Monte presenteia-me ainda com o toc-toc dos sapatos de Monsenhor Raimundo nos corredores de minhas imagens. E a cada toque, revoam do céu pássaros felizes. São aves diversas: aves aos Montes, aves Émersons, aves Raimundos, aves Marias e aves Josés. São pássaros saudosos e inesquecíveis. São lindos passarinhos que passaram, passam e passarão na tela colorida do Instituto de minhas lembranças.
            Nunca serei uma andorinha solta na solidão do espaço. Vivo a contemplar a grandeza do Instituto. Sinto o pulsar de minhas veias e sei que alguma coisa acontece em meu coração.
            O Instituto Cônego Monte será sempre a Fênix dos meus sonhos e a melhor das minhas metáforas.               

(Nailson Costa)

Um comentário:

  1. TEnho também muitas histórias Sobre o "colégio do Padre"...estudei em 1996 e 1997...e tenho um forte desejo de incluir as vivencias escolares da escola no meu TCC...

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”